quinta-feira, março 02, 2006

O meu Porto

Aproveito a deixa do Bilha e a lembrança ainda morna deste bom tempo que se fez sentir no feriado aqui no Porto, para suspirar pelos ares de renovação da Primavera. O som desvairado das gaivotas fez-me sentir saudades e ânsia pela nova estação e até pelo Verão, a minha estação favorita! Penso inúmeras vezes ‘nunca mais é Verão!’...
Dizem-me que será o cansaço a falar mais alto...Até pode ser, mas não é só isso. Anseio as brisas quentes dos finais de tarde, os tons alaranjados do céu, as manhãs que chegam mais claras e os dias que se esticam a preguiçar para a noite estrelada, convidativa a passeios a pé na marginal ou simples contemplações do luar espelhado no rio ou no imenso mar... E olhar em redor e ver dezenas de pessoas a fazer o mesmo: a disfrutar da simplicidade do belo. O odor a mar...A Foz no Verão tem um cheiro diferente! Andar pelo Passeio Alegre até altas horas da noite...com calma, sem pensar em apressar o passo até ao carro, porque está um frio de rachar ou porque a cidade está alagada pelas chuvas!! Anseio pelo S. João! Há quem diga que o Porto é louco ... louco não diria...evidencia-se pela exaltação da sua alegria. Nessa altura do ano, até os barcos acostados têm mais luz, mais cor. Todas as minhas memórias convergem para o calor do Verão. Em casa, no Verão, desfruto sempre desta pequena paixão...abro a janela do meu quarto e afasto as cortinas e deixo o sol bater em mim... fecho os olhos e deixo a luz bater nas pálpebras...a respiração é tão profunda e toda eu estou relaxada...fecho os olhos por fechar...apenas para sentir. E ali me deixo estar...
Amo muito o Porto! Cada esquina me rasga um sorriso e existem alturas em que sinto que a olho como se fosse a primeira vez, não pondo de parte a última vez que a olhei dessa forma tão minha. E sempre lhe descubro algo de novo – um novo recanto, uma nova pedra de calçada, um nova luz e tonalidade ...
Nunca mais é Verão para me sentar no lado do Cais de Gaia e ver a cidade imponente, erguida diante de mim em todo o seu esplendor...sentir este aperto que sinto de cada vez que falo dela, em cada vez que agradeço todos os momentos que nela tenho vivido e tudo o que me tem dado... por tudo que revivo em cada vez que ela me olha....

Termino com um excerto de um poema de Sophia ela que foi uma 'amante' desta cidade:

A terra o sol o vento o mar
São a minha biografia e são meu rosto
Por isso não me peçam cartão de identidade
Pois nenhum outro senão o mundo tenho!
Não me peçam opiniões nem entrevistas
Não me perguntem datas nem moradas
De tudo quanto vejo me acrescento

2 comentários:

Ivana disse...

Há escritos assim. Que têm o dom de traduzir em palavras aquilo que achamos que mais ninguém sente. Ou que achamos que não é "traduzível".

Quando mais vejo mais me acrescento também, ainda que quanto mais veja do mundo (ainda tão pouco...) melhor compreenda que o Porto há-de ser sempre o meu Porto seguro.

Este é, portanto, o testemunho de uma outsider... De alguém que fez desta cidade a sua.

Saudações invictas!

Unknown disse...

Amo o Porto e às vezes quero dizer isso mesmo mas faltam-me as palavras... tu disseste-o tão bem!!! è isso mesmo...