domingo, fevereiro 26, 2006

Bacalhau com Natas – a sequela

a vingança da velha do «farrapo velho»
e o assassinato da tradição do bacalhau cozido...

Estava frio, mesmo muito frio quando três carros encostaram à berma de uma estrada escura, em mau estado e com um declínio de quase 90 graus... Um grupo de 8 pessoas esforçava-se na luta contra a lei da gravidade (you know: aquela lei descoberta quando a maçã caiu na tola do outro) ... Ao telefone, Bilha estabelecia a ligação:
- Está láá?! É o Senhor Truz-Truz, quer dizer, é o senhor da Casa do Truz-Truz? Está lá?! Sinhe, daqui somos nós todos o grupo de malta bacana que vai até à sua Casa do Truz-Truz gingar, quer-se dizer, passar do ano belho pró ano novo! Está lá?? Que cena, não pesco pevas do que diz o méne!
- Passe-me o aparelho celular móvel – disse Carminho! - Claro que não ouve nada, isso usa-se ao contrário!! Eu sabia que não devia ter-lhe emprestado o aparelho do meu papá! E além do mais, o menino não percebe nada de mapas ... e eu estou a ficar congelada, mesmo com este vison de Urso Polar da Chanel.... Ai, ai, porque é que eu não fui com a mamã para a Costa da Caparica, fazer um solariozinho!? Tôá? Tôá? Tio? Está aí?
Do outro lado, nada. Um silêncio pesado. Tão pesado que Carminho tinha o braço cansado e delegou a tarefa de o segurar à jovem e inocente Maria que, desde o episódio piloto para cá continuava a mesma sonhadora ... e resignada ‘serva’ de Carminho. Enquanto segurava o aparelho celular móvel do papá da Carminho, a nossa doce Maria nem se dava conta que Ma-dá a observava de alto a baixo!
Ma-dá já não estava perdida e loucamente apaixonada por Maria. Não!!! Agora, Ma-dá tinha-se encontrado e estava com juízo. Tudo graças às orações e promessas que fizera no interior da Sagrada Famíla onde estivera virtualmente (via jogo da nova PlayStation Portable). Entre o 425º e o 426º degrau da longa escadaria Ma-dá jurara não sofrer mais por amor não correspondido. Em troca prometera que nunca mais jogava búzios e leria o destino nas espinhas do Bacalhau.
- Ó que maçada! A ligação caiu ... – disse, bastante enfatuada a Carminho. – A culpa é toda sua Maria, que não sabe segurar direito no aparelho celular móvel e depois este nevoeiro gripa a antena!! Tudo eu!!
De repente ouve-se, saída do interior do seu Booggie (equipado com faróis de nevoeiro e correntes de neve nos pneus), a radical e acarolada Ivana!!
- E aí, people!? Já ouvi duas vezes a cassete do ganda Bob (Marley, leia-se!) e vós inda estais aí? Se o Truz-Truz não quer abrir as portadas ao pessoal, a gente apanha-o pela calada. Trouxe uns maxilares de tubarão no Boogie que são do campeonato de surf no Hawai! Que tal ir aí abrindo mata até lá? Buga?
Ivana, era de facto, a única elementa do grupo que não estava a congelar a ganhar cubinhos de gelo nas pontas dos cabelos. Mas conseguiu mobilizar todos (sim, todos, até a Carminho) a fazerem-se à aventura pelos caminhos escuros e tortuosos das Terras de Bouro....
* * *
De repente, Maria dá um gritinho púdico: ‘ Ai! Vejai, vejai! Que lindo!!! Um Castelo de pedrinhas’ ao que Carminho ripostou:
‘ Ai querida! Que histeria, que pindérica! Nunca viu?! Que pobreza, que horrore!! A menina é do piôre, deixe que lhe diga! Não vê que chegamos à Casa do Tio Truz-Truz?
E a sensata Má-dá interveio:
‘ Não seja assim Carminho. Está a ser indelicada com a Maria. Tem que pesar os dois pratos da balança antes de falar assim com ela ...’
Enquanto isso, Carminho fez ouvidos de mercadora e dizia para Maria, que lhe ia limando as unhas pelo caminho:
- Eu disse que quero que as ponha quadradas, ouviu? Unhas redondas estão supé demodê!
Mais à frente, em antecipação, Bilha já estava a bater à porta. Com o pulso bateu bem forte:
- Tum, tum, tum?
Ninguém abriu. Todos de fora, olhavam para a porta verde com grande expectativa. Estava tão escuro...
Bilha, és um fixolas, mas não entendes aqui do negócio. Não ‘tás a bater bem. Vê lá – disse Ivana, enquanto tirava fotografias às estrelas (não fosse o nevoeiro cerrada, certamente seria um cenário bem bonito de se fotografar... enfim, opções... :
- Não podes bater Tum, Tum, Tum. Tens que bater assim: Truz - Truz?
Mal deu estas pancadas, a porta abriu-se e de à porta estava o Tio da Casa Truz- Truz: o Sr. Manel Mosaicos, à espera:
- Entrem, sejam bem vindos. Isto é assim: têm um bolo da passagem de ano do ano passado que a minha esposa fez para o outro grupo e que eles nem tocaram. Dou-vos a minha palavra de honra que não lhe tocaram. Está limpinho e fresquinho!! Isto cá em cima, salga-se e tudo se conserva.
- Sim, sim. – disse a ingénua Maria. Nós conhecemos bem o poder conservador do sal, reportando-se ao episódio do cadáver que Bilha salgou na sua lanchonete no Verão passado. O defunto lá estava ainda fresquinho, como recém-assassinado ... Um mimo. Nem as múmias dos egípcios eram tão bem conservadinhas!! (quem sabem sabe, ;))
Entretanto, o Sr. Mosaicos prosseguiu:
- Ah e também têm umas sete-upes de lata que isto dos champanhes não temos cá em cima. A minha esposa teve o cuidado de lhes tirar o gás para não vos cair mal no estômago, por isso abriu cada lata e pôs-lhe dentro um garfinho para tirar o gás. E não precisam de agradecer, porque temos multibanco a funcionar e tudo fica por nove, nove, noventa e nove! Euros claro!
- Como és o hóme dou-te as chaves a ti, meu rapaz! – disse a Bilha, estendendo-lhe um molho de chaves. – Apenas uma dela funciona, mas já não me lembro de qual é. Tens um longo serão pela frente para descobrires. OU então, montas guarda. Qualquer coisa, podem incomodar o meu irmão que mora aqui ao lado. A mim, esqueçam que eu existo!! Fui!
E foi dito e feito! Num passe de magia, o Sr. Manel Mosaicos desapareceu.
Todos se entre-olharam e Ma-dá comentou:
- Bem, parece-me que o mais sensato a fazer agora é verificarmos se temos mesmo a chave correcta. Bilha, tu fazes isso. E entretanto, nós descarregamos as cenas que trouxemos, ok?
- Sim, a Maria trata das minhas coisas – disse Carminho. – Cuidado para não riscar as minhas Louis Vuitton compradas na Feira Internacional de Cerveira!
- Que lindo, Bilha. És o guardião da Torre do Castelo das Princesas... – disse a sonhadora Maria...
- Sinhe. Sou o macho!
Enquanto isso, aproxima-se da casa um vulto. Um soturno vulto e Bilha apercebe-se e diz:
- Quem está aí a gingar? Hum? Olha que eu tenho um petrogás!! Mostra-te lá méne ou mina!
E eis que se aproxima uma senhora muito velhinha, vestida de preto dos pés à cabeça, com lenço e tudo na cabeça...Com a voz muito fininha e rouca dirige-se a Bilha. Enquanto fala e como está um frio de rachar ossos, sai-lhe fumo da boca (vá lá, é sinal que a velha está viva e não é nenhum fantasma da região, sabe-se lá!!!)...
- Olá meu menino... Estais aqui um grupo de jovens, não é???? (falava num tom tão arrastado que Bilha se esforçava por não adormecer...). Eu sou a senhora que vende os Bacalhaus para a consoada e para o farrapo velho. Quereis já fazer a vossa encomenda???? Quantos sois, para saber de quantas postas precisais, hum, meu menino?????
- Yá, somos oito, mas não curtimos bacalhau na passagem d’ano, tá a ver? Eu tenho um negócio onde só se vende bacalhau e trouxemos uns bifes pra desenjoar... Brigadão na mesma!!
- O QUÊ????!!! Ousais assassinar o Bacalhau e o Farrapo Velho das vossas festas de Ano Novo!!!!! Seus infames!! Esta juventude é rasca. O mundo está a chegar ao fim. Ó hereges!! Ó infames!! Pois, ireis ver o que vos vai acontecer.....
Enquanto a velha se afastava a rabujar, Bilha encolheu os ombros e voltou a tentar mais uma chave na porta…em vão. Para o seu zip da sweat-shirt, Bilha disse:
- Aqui grama-se bués bacalhau, tá-se a ver! Se não fosse o frio de rachar, abria aqui uma filial da minha lanchonete!
Entretanto, os restantes chegaram, Bilha desistiu de encontrar a chave e montou guarda ao mesmo tempo que foi acender a lareira. Começou-se a preparar o jantar: Bifes com Cogumelos!!! Yummie!!
Uns documentavam a preparação da comezaina, captando intensos momentos fotográficos do processo de cozedura do arroz. Outros preferiram ficar a olhar e outros cozinhavam…
Finalmente, tudo pronto e sentaram-se à mesa.
Estavam todos refastelados a saborear as doces tentações da carne comprada nessa tarde num talho-café-mercearia-salão de chá quando, não se sabe quem, de onde, porquê, para quê e como, se ouve uma forte pancada!!! TUM_TUM_TUM_TUM!!!(afinal, foram quatro pancadas…ups…). Foi tão grande o estrondo que o chão tremeu. Todos olharam para a porta verde da entrada e, no instante a seguir, o pânico instalou-se (que grande lata! Nem sequer tinha sido convidado!! Pff!!)
Munidos cada um com o seu pau de Mikado de 50 cm de comprimento, desataram a correr na sala, à volta da mesa e aos gritos. Uns gritavam como o Tarzan da Selva. Como é hiper-mal gritar, Carminho preferiu desmaiar (não sem antes ter preparado um colchão para se deitar durante o desmaio). Por seu turno, Bilha fazia sinais de luz com o seu petrogás.
Instalado o pânico, o drama e o hôrrore, levantam-se mais e nebulosos mistérios por desvendar:
- quem é que bateu assim tão violentamente à porta?
- será que é nesta levada de nevoeiro que El-rei D. Sebastião finalmente regressa?
- que espessura tinha cada Pau de Mikado?
- se bateram à porta, porque é eu ninguém abriu? E, By the way, que raio faziam a correr à volta da mesa….Dança da chuva, como os índios? Dah!
- quem ia arrumar a cozinha e lavar a louça depois disto tudo, ãh?
- se os jovens da Casa do Truz-Truz eram oito, quem eram os 3 jovens que não abriram goelas durante todo o episódio, perdão, sequela. Será que admitem mais membros neste grupo ultra-exclusivo?
- seria bolo-rei ou pão-de-ló o bolo que a esposa do Sr. Manel Mosaicos deixou ao grupo? (estou cá com uma larica e nunca mais são horas da janta!! Narrador passa muita fominha!!!)
- aonde ia dar o longo e escuro tudo da lareira?? Ao reino do Pai-Natal?
- será que Mário Soares fez promessa de se inscrever na Corporacion Dermo-Estética caso ganhe as eleições (quer dizer, as eleições na Conchichina, porque as de Portugal, é o vê te avias, ó Chéché!!);
E, para terminar, e já que se fala nisso: se aqui forem nove horas da noite, que horas são em Kuala Lumpur ? Hum??? Não percam…
Post Factium:
(ao longe, no meio do estábulo dos bois, uma velha enrugada, toda vestida de preto, assistia a uma captação de imagens de video, em directo da Casa do Truz-Truz … e ria como uma perdida. Enquanto afagava o lombo de um bezerro, disse-lhe:
- Estás a ver, meu pequenino? Esta é a minha vingança pra aqueles insurretos que comem os teus maninhos!! Eu bem os tentei desviar do pecado e tentei vender-lhes bacalhau, mas eles assassinaram a tradição e os teus maninhos!! Bem feito! Com sorte, inda consigo vender a cassete destas imagens à Endemol para passar no Jornal da TVI!!! HihihihihihihihihihihihihihihihihihihihihihihihihiihihihihihihihihihihiJ
Fim (por enquanto…)

Agradecimentos:
Não se agradece desta vez. Como já se trata de uma sequela já adquirimos um estaturo superior. Já lá vão os tempos da humildade!

Elenco:

Os mesmo da outra vez, um pouco mais velhos e sem o bronze do Verão.
A velha ( é a esposa do Velho do Restelo)
O Bezerro (bonecos insufláveis Continente)
Bifes (Talho Focinho de Porco)
Sr Manel Mosaicos (cedido gentilmente e somente para esta sequela pela Prisão de Custóias. Na realidade, chama-se Toni Monta Todas).

21 de Janeiro de 2006

3 comentários:

Ivana disse...

Não sei mesmo onde vais buscar estas coisas...

Beijito.

Madalena disse...

Como seria de esperar não frustas-te as nossas expectativas!

Concordo plenamente com a Ivana, a tua imaginação não tem limites!

Obrigada pelos sor(risos) que nos consegues tirar, através do que fazes com as palavras.

Beijo!

Unknown disse...

és a nossa salvação...

os teus textos são deliciosos...

não tenho amis nada a dizer...

ganda bj