quarta-feira, julho 28, 2010

SÉTIMO MANDAMENTO

INVESTE NUMA PROLE NUMEROSA
(E ACEDERÁS AO FANTÁSTICO MUNDO DE NEVERLAND)

sexta-feira, julho 23, 2010

Sugestão de fim-de-semana


A vida é um milagre de Emir Kusturica. 2h 30 minutos de uma beleza sem palavras. O cenário é lindo. As músicas são imensamente divertidas. Os personagens são hilariantes - obviamente, pois é um filme do Kusturica. E o cão, o gato e a burra são de rir até ficar com dores de barriga!! Tentei encontrar um vídeo no you tube para postar, mas não fazem justiça ao filme. Vão ver o filme....

domingo, julho 18, 2010

No meu sotaque, Arto Lindsay

Deixo-vos com a minha obsessão do momento....



PS - Ignorem o vídeo, que é apenas uma imagem sem sentido. Curtam só a música!!!

quinta-feira, julho 15, 2010

sábado, julho 10, 2010

Sem comentários...

Segunda-feira passada, a meio da tarde, faço a A-6, em direcção a Espanha e na companhia de uma amiga estrangeira; quarta-feira de manhã, refaço o mesmo percurso, em sentido inverso, rumo a Lisboa. Tanto para lá como para cá, é uma auto-estrada luxuosa e fantasma. Em contrapartida, numa breve incursão pela estrada nacional, entre Arraiolos e Borba, vamos encontrar um trânsito cerrado, composto esmagadoramente por camiões de mercadorias espanhóis. Vinda de um país onde as auto-estradas estão sempre cheias, ela está espantada com o que vê:
- É sempre assim, esta auto-estrada?
- Assim, como?
- Deserta, magnífica, sem trânsito?
- É, é sempre assim.
- Todos os dias?
- Todos, menos ao domingo, que sempre tem mais gente.
- Mas, se não há trânsito, porque a fizeram?
- Porque havia dinheiro para gastar dos Fundos Europeus, e porque diziam que o desenvolvimento era isto.
- E têm mais auto-estradas destas?
- Várias e ainda temos outras em construção: só de Lisboa para o Porto, vamos ficar com três. Entre S. Paulo e o Rio de Janeiro, por exemplo, não há nenhuma: só uns quilómetros à saída de S. Paulo e outros à chegada ao Rio. Nós vamos ter três entre o Porto e Lisboa: é a aposta no automóvel, na poupança de energia, nos acordos de Quioto, etc. - respondi, rindo-me.
- E, já agora, porque é que a auto-estrada está deserta e a estrada nacional está cheia de camiões?
- Porque assim não pagam portagem.
- E porque são quase todos espanhóis?
- Vêm trazer-nos comida.
- Mas vocês não têm agricultura?
- Não: a Europa paga-nos para não ter. E os nossos agricultores dizem que produzir não é rentável.
- Mas para os espanhóis é?
- Pelos vistos...
Ela ficou a pensar um pouco e voltou à carga:
- Mas porque não investem antes no comboio?
- Investimos, mas não resultou.
- Não resultou, como?
- Houve aí uns experts que gastaram uma fortuna a modernizar a linha Lisboa-Porto, com comboios pendulares e tudo, mas não resultou.
- Mas porquê?
- Olha, é assim: a maior parte do tempo, o comboio não 'pendula'; e, quando 'pendula', enjoa de morte. Não há sinal de telemóvel nem Internet, não há restaurante, há apenas um bar infecto e, de facto, o único sinal de 'modernidade' foi proibirem de fumar em qualquer espaço do comboio. Por isso, as pessoas preferem ir de carro e a companhia ferroviária do Estado perde centenas de milhões todos os anos.
- E gastaram nisso uma fortuna?
- Gastámos. E a única coisa que se conseguiu foi tirar 25 minutos às três horas e meia que demorava a viagem há cinquenta anos...
- Estás a brincar comigo!
- Não, estou a falar a sério!
- E o que fizeram a esses incompetentes?
- Nada. Ou melhor, agora vão dar-lhes uma nova oportunidade, que é encherem o país de TGV: Porto-Lisboa, Porto-Vigo, Madrid-Lisboa... e ainda há umas ameaças de fazerem outro no Algarve e outro no Centro.
- Mas que tamanho tem Portugal, de cima a baixo?
- Do ponto mais a norte ao ponto mais a sul, 561 km.
Ela ficou a olhar para mim, sem saber se era para acreditar ou não.
- Mas, ao menos, o TGV vai directo de Lisboa ao Porto?
- Não, pára em várias estações: de cima para baixo e se a memória não me falha, pára em Aveiro, para os compensar por não arrancarmos já com o TGV deles para Salamanca; depois, pára em Coimbra para não ofender o prof. Vital Moreira, que é muito importante lá; a seguir, pára numa aldeia chamada Ota, para os compensar por não terem feito lá o novo aeroporto de Lisboa; depois, pára em Alcochete, a sul de Lisboa, onde ficará o futuro aeroporto; e, finalmente, pára em Lisboa, em duas estações.
- Como: então o TGV vem do Norte, ultrapassa Lisboa pelo sul, e depois volta para trás e entra em Lisboa?
- Isso mesmo.
- E como entra em Lisboa?
- Por uma nova ponte que vão fazer.
- Uma ponte ferroviária?
- E rodoviária também: vai trazer mais uns vinte ou trinta mil carros todos os dias para Lisboa.
- Mas isso é o caos, Lisboa já está congestionada de carros!
- Pois é.
- E, então?
- Então, nada. São os especialistas que decidiram assim.
Ela ficou pensativa outra vez. Manifestamente, o assunto estava a fasciná-la.
- E, desculpa lá, esse TGV para Madrid vai ter passageiros? Se a auto-estrada está deserta...
- Não, não vai ter.
- Não vai? Então, vai ser uma ruína!
- Não, é preciso distinguir: para as empresas que o vão construir e para os bancos que o vão capitalizar, vai ser um negócio fantástico! A exploração é que vai ser uma ruína - aliás, já admitida pelo Governo - porque, de facto, nem os especialistas conseguem encontrar passageiros que cheguem para o justificar.
- E quem paga os prejuízos da exploração: as empresas construtoras?
- Naaaão! Quem paga são os contribuintes! Aqui a regra é essa!
- E vocês não despedem o Governo?
- Talvez, mas não serve de muito: quem assinou os acordos para o TGV com Espanha foi a oposição, quando era governo...
- Que país o vosso! Mas qual é o argumento dos governos para fazerem um TGV que já sabem que vai perder dinheiro?
- Dizem que não podemos ficar fora da Rede Europeia de Alta Velocidade.
- O que é isso? Ir em TGV de Lisboa a Helsínquia?
- A Helsínquia, não, porque os países escandinavos não têm TGV.
- Como? Então, os países mais evoluídos da Europa não têm TGV e vocês têm de ter?
- É, dizem que assim entramos mais depressa na modernidade. Fizemos mais uns quilómetros de deserto rodoviário de luxo, até que ela pareceu lembrar-se de qualquer coisa que tinha ficado para trás:
- E esse novo aeroporto de que falaste, é o quê?
- O novo aeroporto internacional de Lisboa, do lado de lá do rio e a uns 50 quilómetros de Lisboa.
- Mas vocês vão fechar este aeroporto que é um luxo, quase no centro da cidade, e fazer um novo?
- É isso mesmo. Dizem que este está saturado.
- Não me pareceu nada...
- Porque não está: cada vez tem menos voos e só este ano a TAP vai cancelar cerca de 20.000. O que está a crescer são os voos das low-cost, que, aliás, estão a liquidar a TAP.
- Mas, então, porque não fazem como se faz em todo o lado, que é deixar as companhias de linha no aeroporto principal e chutar as low-cost para um pequeno aeroporto de periferia? Não têm nenhum disponível?
- Temos vários. Mas os especialistas dizem que o novo aeroporto vai ser um hub ibérico, fazendo a trasfega de todos os voos da América do Sul para a Europa: um sucesso garantido.
- E tu acreditas nisso?
- Eu acredito em tudo e não acredito em nada. Olha ali ao fundo: sabes o que é aquilo?
- Um lago enorme! Extraordinário!
- Não: é a barragem de Alqueva, a maior da Europa.
- Ena! Deve produzir energia para meio país!
- Praticamente zero.
- A sério? Mas, ao menos, não vos faltará água para beber!
- A água não é potável: já vem contaminada de Espanha.
- Já não sei se estás a gozar comigo ou não, mas, se não serve para beber, serve para regar - ou nem isso?
- Servir, serve, mas vai demorar vinte ou mais anos até instalarem o perímetro de rega, porque, como te disse, aqui acredita-se que a agricultura não tem futuro: antes, porque não havia água; agora, porque há água a mais.
- Estás a dizer-me que fizeram a maior barragem da Europa e não serve para nada?
- Vai servir para regar campos de golfe e urbanizações turísticas, que é o que nós fazemos mais e melhor.
Apesar do sol de frente, impiedoso, ela tirou os óculos escuros e virou-se para me olhar bem de frente:
- Desculpa lá a última pergunta: vocês são doidos ou são ricos?
- Antes, éramos só doidos e fizemos algumas coisas notáveis por esse mundo fora; depois, disseram-nos que afinal éramos ricos e desatámos a fazer todas as asneiras possíveis cá dentro; em breve, voltaremos a ser pobres e enlouqueceremos de vez.
Ela voltou a colocar os óculos de sol e a recostar-se para trás no assento. E suspirou:
- Bem, uma coisa posso dizer: há poucos países tão agradáveis para viajar como Portugal! Olha-me só para esta auto-estrada sem ninguém!

By Miguel Sousa Tavares

sexta-feira, julho 09, 2010

Aqui e Agora

"É difícil viver no presente. O passado e o futuro continuam a atormentar-nos.
O passado com remorsos, o futuro com preocupações. (...)
Mas piores que as culpas, são as preocupações.
As nossas preocupações enchem-nos a vida de "o que será se": o que será se fico desempregado; o que será se o meu pai morrer; o que será se não tiver dinheiro suficiente; o que será se a economia enfraquece ainda mais; o que será se estala uma guerra?
(...) os verdadeiros inimigos da nossa vida são os "deverias" e os "ses".
São eles que nos puxam para um passado que não se pode modificar e para um futuro imprevisível.
Mas a vida real tem lugar aqui e agora."

"Aqui e Agora" de Henri Nowen (texto retirado de http://laurindaalves.blogs.sapo.pt/)

quarta-feira, julho 07, 2010

Confissões de uma fala-barato 2

Estou velha. Quem o diz não sou eu, mas sim a minha sobrinha de doze anos que, com a docilidade (?!) típica da adolescência mo informa.
Tudo aconteceu a meio de uma refeição entre família e de tal forma imprevista e abrupta que quase me engasguei com o pedaço de pão que tinha na boca. Foram precisos bastantes copos de água para fazer passar não o pão, mas sim o nó de estupefacção com que fiquei pela goela abaixo.
Vamos por partes. Na sequência de uma cena típica de negociação parental em que o tema é idade suficiente para sair à noite só com as amigas e uma vez que não se chegava a um número consensual, eu, tia preocupada com o bem-estar emocional das pequenas (embora agora um pouco já algo para o crescidas) resolvi intervir e prontificar-me para mediar a integração no meio nocturno, com peso e medida. Basicamente disse:
‘’Se não queres ir com os pais, porque até compreendo que tenhas vergonha e tal, podes ir comigo, hã? Fingimos que somos irmãs, hein? Boa?’’ – propus com a melhor das intenções e com o pretensiosismo desmedido típico da tia ‘’porreiraça’’.
Do outro lado, um redondo ‘’Não quero’’.
‘’Como assim não queres?’’ – questionei, espantada mas ainda descontraída.
‘’Contigo não quero ir! É a mesma coisa que ir com os meus pais, olha!’’ – a diabrete atirou.
Olhando em redor, perante pais, avós, irmã mais nova e bebé incluído, e vendo que escutavam atentamente o diálogo em silêncio e aguardando pela minha resposta, balbuciei:
‘’Por acaso não estás a dizer … ha, hum …. que sou …. velha demais … para ir contigo sair?
Do outro lado, o disparo fatal.
‘’Sim, és’’
Este ‘’Sim, és.’’ foi dito com a despreocupação típica de quem come batatas fritas molhadas em gema de ovo, sem sequer parar para olhar-me nos olhos.
Vinda do meu lado esquerdo, como se não bastasse, ainda recebi uma cotovelada do meu esposo que, em plena violação aos votos matrimoniais e passo a citar ‘’…. na saúde, na doença, na vez em que constatas que estás a envelhecer, etc …’’, me diz:
‘’Pimba, toma! Quiseste armar-te e agora ouviste o que não querias!’’
Fiquei muda. Os olhos fixaram um ponto naquela mesa e nem sequer tive coragem de olhar as pessoas que estavam à mesa que, para disfarçar começaram a fazer barulho com os talheres e a falar coisas sem sentido com a bebé.
Na minha mente, bailavam afirmações cruzadas, vozes de indignação, de interrogação, de espanto:
‘’ Como é que é possível? Eu só vou fazer trinta anos, mas até nem pareço nada! As pessoas nunca me dão a minha idade, dizem sempre que pareço ter muito menos!! Será que estou a ficar com rugas? São as brancas, de certeza, estas malditas brancas que dão ar de velha! Buuuuuáááááááááa´!!!’’
Foi o fim da picada. A partir daí, penalizações nas prendas de Natal, aniversário e Páscoa seriam garantidas. A tia jovem e mãos-largas iria dar lugar à tia cota e forreta.
No calor da emoção, essa foi a sentença imediata para aquele tiro à queima roupa.
Em minha defesa, após ponderação, digo o seguinte:

Posso não estar preparada para mais nada nesta vida mas sei que: para mudar fraldas, aquecer biberões, apaziguar choros ou proferir baboseiras monossilábicas e sem sentido (e em voz alta !!) estou amplamente qualificada. Há doze anos atrás, esta mesma sobrinha que hoje me qualifica como ‘’fora do prazo de validade’’ não se importava nada com a minha idade. Para ela, o importante é que eu lhe garantisse o rabinho enxuto, o biberão na temperatura ideal e a horas condizentes com o seu relógio interno e, de preferência, colinho quentinho na hora de dormir.
Aliás, minto. O colo não era só na hora de dormir. Na fase dos seis meses, iniciou-se uma obsessão doentia de percorrer todos os cantos da casa. Como ainda não caminhava cabia-me a mim a função de garantir o transporte. Pois se existem os sightseeing bus., eu era para ela uma espécie de sightseeing arm. E posso jurar pela minha morte que aquele peso bruto alapado no meu braço esquerdo horas seguidas de indicador em riste a apontar o caminho por onde queria ir, contribuiu decisivamente para a minha desgraça lombar. Pondero, inclusivamente, atribuir aos colos excessivos o desnivelamento dos meus ombros. Ah pois é!
Estas crianças de hoje em dia são umas ingratas, umas egoístas, umas, umas jovens … eu sei lá!
E eu? E eu, hã?
Eu ... derreto-me com o olhar terno delas, com sorriso delas, com o abraço delas, com as ‘’graxas’’ delas para as levar ao cinema e a comer porcarias que os pais proíbem …
Persisto no erro e continuo a amá-las incondicionalmente. Tenha trinta, quarenta, cem anos.
E nada pode reverter essa situação.
Porque as crianças não mentem e ela não mentiu.
Apenas me relembrou que, com a idade dela, também sonhava com o dia em que podia ir à discoteca só com os meus amigos!! E, já na altura – e a memória não me falha – os tios, por mais que os adorasse, não estavam incluídos nessa saída!

Que calor!

Uma espreguiçadeira ou, vá, uma rede dependurada entre duas àrvores frondosas, o mar a meia dúzia de passos e um suquinho de maracujá na mesinha ao lado...

segunda-feira, julho 05, 2010

Dreams do come true!

Contdown para o realizar de um sonho. Depois de NY, só faltava mesmo este!!! :)
Até lá, trabalho, conduzo, cozinho e respiro ao som da minha banda do coração.
A que me faz sentir completamente ALIVE!!!

sexta-feira, julho 02, 2010

Confissões de uma fala-barato

Dizem que a entrada nos trinta assinala o auge feminino. Estou a escassos meses de completar essa idade - que é para mim mais bizarra e estranha do que os costumes dos habitantes da Patagónia - e posso jurar que sinto tudo menos que caminho para o pódio.
Conversando um dia destes com mais duas amigas sobre celulites e coisas afins, cheguei à conclusão de que se me fosse concedido um derradeiro desejo ao génio da lâmpada todo o meu agradecimento recaíria na benção deste me voltar a conceder o meu cabelo de adolescente, com zero brancas pelo meio. Na verdade, de todos os males da idade, as brancas vieram desestabilizar a minha vida de tal maneira que grande parte da minha vida gira em torno de contagens decrescentes até à próxima coloração. Se, por um lado, o ritual do tingimento dos fios capilares é para mim como que uma tortura, por outro lado, o resultado é uma bênção. É como se passasse dos cinquenta novamente para os vinte (vinte e seis, vá).
O pior é que desde os últimos tempos que a coisa se tem vindo a agravar. O milagre das tintas parece estar a desistir de mim, porque ultimamente saio do cabeleireiro já com duas ou três brancas a brilharem no alto da minha cabeça, orgulhosas do facto de terem adquirido uma misteriosa imunidade face ao poderoso químico que parece tingir tudo (orelhas, testa, toalha (!)) menos o que deveria.
Mas isto não é tudo. A agravar a situação, o meu cabelo, outrora farto, ameaça tornar-se numa fina película a cobrir-me a nuca. Cai de tal forma frequente e descontrolada que, por onde passo, pareço deixar um rasto de cabelos atrás de mim. Mais uma vez, recorrendo à ciência capilar, tenho feito uso e abuso de todas as mezinhas que apanho pela frente, desde pozinhos multi-vitamínicos solúveis até às típicas ampolas que me dão cabo da paciência porque demoram demasiado tempo a aplicar e, sobretudo, porque obedecem a rotinas, um sacrifício e convite irresistível à desistência.
Sempre detestei rotinas e desde que casei que tentei impedir que estas se instituíssem nas nossas vidas. Não existe dia fixo para visitar os parentes, para estar com os amigos, ir ao cinema e muito menos (!) para actividades do casal … Como a rotina dos cinco dias úteis de trabalho tem um peso esmagador na minha vida penso que no facto de não existir rotinas na minha vida pessoal encontrei uma bóia de salvação da insanidade total. Pelo menos assim o quero acreditar.
Estava a falar do meu cabelo e comecei a perder o rumo da conversa. Isso em mim é tão habitual que algumas pessoas já me disseram que sou muito faladora ou uma ‘’fala barato’’. Nunca cheguei a perceber as exactas percentagens de crítica e de elogio subjacentes nessa apreciação, mas a verdade é que cada vez mais me estou nas tintas para o que os outros pensam sobre mim.
Até porque, se há uma coisa de útil em envelhecer, é a dita sabedoria. A minha, apesar de embrionária, diz-me que serei mais feliz se deixar de considerar as opiniões sobre minha pessoa que são proferidas por pessoas pelas quais não tenho profunda admiração e que me despertam vontade súbita de tirar a sesta. E a verdade é que até me tenho dado razoavelmente bem seguindo esta teoria.
No fundo, o que de bom têm as nossas crenças é que são como os leggings, um dia estão na moda, no outro estão fora dela. E é por isso que acredito cada vez mais que as pessoas mais felizes tendem a mudar de opinião mais vezes e a ter cada vez menos certezas na vida. Porque ao ritmo de mudança que hoje experienciamos tudo é posto em perspectiva de forma tão veloz que se não somos flexíveis e preferimos ver a coisa apenas ‘’à nossa maneira’’ quando dermos por ela, estamos sozinhos e infelizes.
Nada disto faz sentido se pensado no abstracto. Um exemplo em concreto: a questão da despenalização do aborto. Se há uns anos tinha uma opinião, hoje tenho outra que é o oposto. O que aconteceu dentro de mim? Aprendizagem. Já é positivo, significa que pelo menos o meu sedentarismo crónico ainda não atingiu o meu cérebro.
Ora, voltando ao cabelo parece passar-se o oposto. Parece que quanto mais tempo passo a cuidar dele, menos conhecedora dele me torno, porque por um lado, e apesar de todos os meus esforços e serúns milagrosos, as pontas continuam a espigar e, por outro, quanto mais prancha alisadora lhe ponho em cima, mais o estafermo teima em encaracolar.
Desistir seria admitir um fracasso e penso que ainda sou demasiadamente jovem para assumir tal peso nas costas. Até porque, uma vez que se fala nelas, diga-se que a entrada nos trinta não estão a correr nada bem nesse campo. No espaço de dois anos, um médico comunicou-me que tinha um ombro mais acima do que o outro (o que é aborrecido para usar tops), ameaçou-me com uma hérnia discal que posteriormente foi desconfirmada mas que me obrigou a passar pela experiência claustrofobia e ensurdecedora de uma ressonância magnética e pelo trauma de picadas e choques de agulhas da electromiografia ao braço esquerdo. Como se não bastasse sentir-me como um fruto que apodrece, eis senão quando um personal trainer me encosta literalmente a uma parede, olha para a minha curvatura lombar e prenuncia o meu fim: ‘’Você com essa lordose (i.e. curvatura pronunciada no final das costas, na zona do cóccix) e da maneira como tem essas costas ao terceiro mês de gravidez vai para casa e fica de cama até ao final’’. Não satisfeito ainda adicionou mais pesticida à fruta já de si podre e rematou: ‘’E que dizer dessas clavículas assim sem massa muscular e só osso? Num acidente a 50 à hora, fica paralisada na certa’’.
Há que ser muito resiliente e, como dizem os brasileiros, ouvido duro para ignorar estas sentenças apocalípticas. Mas a verdade é que não só consegui ignorá-las como direccionar toda a minha atenção e preocupação para o meu drama capilar. Afinal de contas, o cabelo embeleza sobremaneira uma mulher.
Bom, ainda acerca de génios da lâmpada e de concessão gratuita de desejos, creio ter desiludido a minha barriga da perna que não se viu contemplada com uma atençãozinha do génio omnipotente.
A verdade é que, se há capítulo virado definitivamente no meu livro de aflições femininas e que não transita para a década dos trinta, é a que contempla a temática pernas e toda uma secção dedicada à barriga da perna, gémeos incluídos. Palavras como: presunto, troncos de árvore e garrotes deixaram de ter duplo significado e de estar associadas à justificação pela qual me recusava a usar qualquer tipo de roupa (vestido, saias, calções) que não cobrisse as minhas pernas. Presunto passou apenas a ser uma iguaria saborosa em combinação com melão e os troncos de árvore passaram a ser única e exclusivamente isso mesmo: troncos de árvore. E, já agora, garrotes são apenas pedaços de madeira que evito pegar para não infligir ainda mais danos nas minhas já de si desidratadas e degeneradas vértebras lombares
A partir do momento em que ultrapassei essa barreira todo um novo mundo se abriu perante mim, ou melhor, perante os meus joelhos que passaram a ver mais vezes a luz do dia.
A parte menos boa da coisa é que me tornei viciada em vestidos. Lisos, floridos, a direito ou plissados, não interessa. Os meus olhos estigmatizados e recentemente míopes brilham com vestidos. E o facto é que tendencialmente os compro não muito justos, com a desculpa de vão ser roupas úteis no período da gravidez.
Sim, gravidez que cada vez mais se antevê como um estado de graça a curto-prazo …
Bem sei que o meu cabelo irá ficar ainda mais fraco e que as unhas e os dentes ficarão fraquinhos. A circulação irá piorar e as pernas se já antes inchavam com o calor e o cansaço, irão nessa altura duplicar de tamanho. Ainda assim, teimo em caminhar nesse sentido.
Mas como antes dos trinta anos tal não irá acontecer, resta-me discorrer sobre temas tão centrais como cabelos, vestidos, drenagem linfática e carreira. Porque graças a Deus, de Amor estou bem servida e porque a felicidade não cabe nas palavras.
E chegada ao fim da página, percebo que a subida ao pódio nos trinta anos não passa por ter uma cabeleira farta, nem tão pouco umas pernas Olívia Palito. O que mói o juizinho, o que aborrece mesmo é entrar nos trinta anos e perceber que tudo permanece aborrecidamente igual aqui neste cubículo estéril de inspiração, entusiasmo e vida em que a motivação é um pequeno punhado de notas que ao final do mês servem, pelo menos, para comprar tinta de cabelo e vestidos.

Carminho gosta disto .... LOL

quinta-feira, julho 01, 2010