terça-feira, janeiro 31, 2006

Water Lillies _ Monet, C.

Agora sim: aqui está ele ... a embelezar o nosso bloggie...

segunda-feira, janeiro 30, 2006

(De)Lírios & Water Lillies de Monet (as letras e a imagem)

(De)Lírios

Não preguei olho esta noite. Passei-a às claras, no escuro do nosso quarto. A minha cabeça transformou-se em chumbo e os meus lábios na secura de uma ameixa murcha. Ao meu lado, o jarro de água está vazio. Desta vez, tomei dose dupla e nada – os comprimidos já não fazem efeito. Sinto-me sem vontade de nada. Só vejo branco em meu redor, mas não me sinto tranquila. Acho que me sinto até agoniada com este excesso de luz.

É como se tudo na minha vida se resumisse a duas cores – o negro da noite e o branco das paredes, dos lençóis, da luz que entra por entre as amplas janelas…
Uma espécie de código binário apossou-se de toda a minha vida. Só os opostos existem: ora me sinto feliz, ora desolada; umas vezes sei que quero o Mundo, noutras, quero deixar de existir nele.

Olho para o meu roupeiro e tudo é preto e branco/branco e preto. Preto para a noite - porque é sóbrio e elegante, porque seduz como a “Natasha Kinsky, no filme Felina “ - (como me disseste uma vez).
Roupa branca para usar durante o dia – porque contrasta com o negro dos meus cabelos, porque combina com a minha pele alva e os meus olhos azuis.
Lembro-me de teres sussurrado que eu era o teu pedaço de céu, porque era branca e suave como as nuvens, tinha o azul celeste espelhado nos olhos e a escuridão da noite cravada nos cabelos. Foi nesse dia exacto que me rendi a ti. Em que te tornei estrela do meu céu.

Queria tanto poder sonhar contigo, mas a insónia dos últimos tempos não o consente. A minha mente está exausta e drogada em demasia para conseguir ir lá atrás buscar esses pedaços de ser e de nós.

Desde que partiste que não durmo. Não consigo preencher o vazio que deixaste na cama. Ando nela às voltas, tentando manter quente o teu lugar, como se isso te tornasse mais presente. Mas de nada serve. Preciso de ti, do teu abraço, da tua respiração, do teu sossego.

Branco é a cor da pureza. Pela lógica, será o preto necessariamente impuro? Respondo que não. Que é na escuridão, na absoluta cegueira que se descobre a pureza. É negra a cor da manta que a cobre e protege, a oculta e refugia de tudo aquilo que a possa contaminar, perturbar até.

Tal e qual o nosso casamento – a união entre a força e a vulnerabilidade. Entre a brancura do meu vestido e o negro do teu solene fraque. Pelo menos, foi isso que senti no momento em que a minha mão te foi entregue pela do meu pai. Não pensei muito sobre o assunto nessa altura mas, passados os primeiros tempos, esse desconforto começou a surgir e a questionar-me “Alguma vez terás sido dona de ti própria? Ou és forma humana de frágil cristal que simplesmente mudou de vigilante?”

Assaltam-me a mente todas as formas de mulher que gostaria de ter sido. Uma negra de lábios volumosos e cabelos curtinhos, rentes à nuca, enrolada em tecidos artesanais, coloridos e rudes, com os pés gastos pela rua e as palmas das mãos brancas e marcadas pela apanha de algodão no campo. Avassaladora nas suas paixões, quente em todas as estações do ano e com olhos avelã, esbugalhados, que lançam uma infinita doçura em tudo o que contemplam!

Terei certamente um lado sádico, mas gosto do contraste entre o negro da pele e o vermelho intenso do sangue. Imagino o sangue a jorrar pelo dedo que se magoa por entre os campos de algodão. Sem achaques e com naturalidade, esta mulher leva o dedo à sua boca e suga o sangue até este estancar. Por entre a terra e as plantas do algodão, vêem-se gotas de sangue e projectam-se figuras sem nome.
Comigo, nunca nada se passou assim. Raras foram as vezes em que os meus pés provaram a terra. Lembro-me de me ter magoado muito poucas vezes na infância, tal era a vigilância cerrada da minha ama. Talvez um arranhão no joelho que cedeu numa escada trapaceira, ou um pequeno corte na folha branca de papel na qual tentei, em vão e numa casual tentativa, iniciar a escrita do meu diário.
Recordo o fascínio por mim sentido ao ver um menino da escola a sangrar do nariz. Não percebia porque é que isso acontecia, mas divertia-me com a cena da professora sobressaltada, a correr em sua direcção com um lenço de papel para impedir que o sangue espirrasse em cima dos seus livros e das fichas de trabalho.
Chegara mesmo a perguntar à minha mãe porque motivo não sangrava mais vezes e, ela, com a sua fleumática frase habitual: ” Delírios, Maria Madalena… delírios…Vá procurar a sua ama e deixe-me sossegar a cabeça”.
E eu assim ia.
Não deixa de ser curioso o facto de sempre me ter vestido de branco e negro e de nunca ter comprado algo em vermelho. Podia ter comprado aquele vestido que vira numa montra em Nice, cujo escarlate me saltou ao olho. Mas disseste-me que o jantar de aniversário dos teus pais merecia algo mais discreto. Um vestido preto – um básico, ‘’ Intemporal como tu” – disseste-me.
No entanto, vinguei-me de ti nessa noite e ofereci um grande ramo de rosas vermelhas à tua mãe. Frescas, em botão, envoltas em folhas de palmeira e atadas em fio do norte. Sussurraste-me à sobremesa que havia sido “ precipitada” na escolha “Podias ter-me pedido ajuda na escolha, querida. A mamã aprecia outro tipo de flores. Olha, por exemplo, umas violetas ou até mesmo uns jarros. São mais neutros e ligam bem com tudo”. Pois, e passam verdadeiramente despercebidos, com sua aparência insípida e marginal. Da jarra, as rosas passaram para o lixo, logo no dia seguinte. Pensaram que aceitei com passividade a história mal contada de que tinham sido oferecidas à capela, em honra à santa padroeira, em agradecimento da celebração dos 48 anos de matrimónio. Sei bem que o agradecimento tinha sido em forma de aperto de mão e cheque endossado à Igreja. Pelas almas - claro ! E pela dedicação dominical do Padre Fernando… O mesmo Padre Fernando que nos casou debaixo da neblina primaveril, na quinta vimaranense da tua família.

Mas deixa, já te perdoei isso e tanto mais. Não esqueci, mas perdoei.
Agora que aqui estou, com preguiça da vida e com carência de incontáveis horas de sono, olho para a poltrona que está perto da porta do quarto. Mais ao lado, encostada, repousa uma caixa de cartão branca. Estranho… não me recordo de a ter colocado ali, nem sequer de antes a ter visto. O que terá dentro?
Começa a crescer uma curiosidade, estranha até, perante uma simples caixa de cartão branca. Mas o corpo não se levanta para ir lá e saciar esta comichão que sinto!
De repente, uma reserva de energia – das últimas, talvez – toma-me e estou em pé, descalça, junto à caixa. Sento-me com ela ao colo na poltrona. Ao levantar a tampa, eis perante mim a luz que ansiava! Um ramo de lírios brancos! Lírios, a flor da pureza!
Desço as escadas desenfreadamente e dirijo-me ao jardim e lá o encontro – o negro que me protege, o calor da minha cama, a estrela do meu céu, o guardador da minha fragilidade. Havia regressado.
“ Fizeste-me tanta falta. “ – disse-lhe, enquanto repousava no seu abraço.
Não me respondeu que também lhe tinha feito falta a si, mas os (de)lírios disseram-no em todas as vozes.


(P.S.- Acima, um dos quadros que em mim teve mais impacto na longa e saborosa visita que fiz à Tate Modern Museum. Às meninas que em breve visitarão a cidade, lanço este 'teaser' das maravilhas que vos esperam! O texto, esse, para algumas é já conhecido. Resolvi partilhá-lo. Uma ode, digamos, à minha flor preferida, os lírios ...Ofereço-vos então flores...)

Carminho

domingo, janeiro 29, 2006

Se

Se tanto me doí que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na luta por um bem definitivo
Em que as coisas de amor se eternizassem

SMBreyner
Só por isso...
estou-vos grata

sexta-feira, janeiro 27, 2006

A Menina Azul


Nos meus caminhos tenho cruzado com outros caminhos trilhados por outras pessoas. Até aqui nada de novo. A vida quer-se assim, cruzada (e trilhada...).
Nem sei bem porque o decidi, mas escrevo agora sobre a Menina Azul. Falo aqui um pouco sobre uma menina. Uma menina permanentemente azul...
Pelo menos era assim que eu a via. Pequeninas, finas quase imperceptíveis veias azuis cobriam-lhe crânio nu. E os olhos, de um castanho sempre azulado, eram os olhos mais esperançados que eu alguma vez vira.
Era baixinha esta menina. Certo que tinha apenas 7 anos, mas era, ainda assim, pequenina. A sua estatura não a impedia de chegar até nós, até mim. O olhar irrequieto, de uma inquietude angustiada não descansava nunca, contrastando com a serenidade dos seus gestos.
"Sim, eu sei que estás aí!" queria o meu coração dizer-lhe. Mas o meu coração não falava, a minha boca não se movia, e a Menina Azul não escutava...
Conheci esta menina há 3 anos. Olhei-a e vi. Curiosamente sinto que ela me viu desde logo. Pelo seu comportamento consigo perceber que me observa constantemente e ficava aborrecida quando não a olhava/via também.

Tinha medo. De olhar para ela e não conseguir mais desviar os olhos do coração.
Mas tinha maior medo ainda de não a poder olhar mais e ir descobrindo as curvas do sorriso, os gestos serenos que camuflavam palavras.

O meu coração falou, a pouco e pouco e ela foi respondendo. A Menina Azul ensinou-me a sorrir com o olhar e a perceber que o som de uma gargalhada é o maior presente que eu podia receber. deixei de ter medo.

Não voltei a cruzar-me com ela. A vida tem destas coisas... E o coração aquece-nos por dentro, enquanto as lágrimas vão caindo, sob forma de um sorriso.
A Menina Azul é quem eu gostava de ser quando fosse grande.

De C. para C.

segunda-feira, janeiro 23, 2006

(...)

Para que se justifique a nossa vida
É preciso que alguém a invente em nós.
Os que nunca inspiraram um poema
São as únicas pessoas sós.

Natália Correia

(à Má-Dá...parabéns)

Saudações a todos os membros do Grupo Mais Giro!

Bacalhau com Natas é uma posta no escuro, perdão, um passo no escuro... por isso, acendam as luzes!

Expectativas: que se torne num espaço virtual, povoado por gente interessante (e gira!)! Que em cada texto, nos labirintos das palavras e nos nós de cada letra, este Bacalhau com Natas possa ser também um espaço interior e silencioso povoado de sentimentos desaguados em Devaneios, Gritos, Risos ...

Que comecem a surgir mais post(as) deste (já tão saboroso) bacalhau!

Bacalhau com Natas: O poder conservador do sal (episódio pioloto)

Era uma quarta-feira de Agosto. Em vez de sol intenso, pairava no ar um nevoeiro cerrado e o cheiro a maresia. As Garotas tomavam o pequeno-almoço sentadas numa pequena mesa da esplanada mesmo em cima da praia, sem dar conta da passagem do tempo e esquecendo a velocidade alucinante da jornada de trabalho. Aliás, elas nem sequer sabiam o que era trabalhar! Apenas o sabia a humilde Sãozinha, filha e neta de pescadores, que andava sempre com as mãos cortadas devido à árdua tarefa de tecer as redes de pesca. Sãozinha não conhecia o gosto da carne. Em contrapartida, conhecia todas as espécies de peixe... o cheiro, o paladar e o aspecto de cada um. Com apenas um metro e meio, Sãozinha não passava despercebida. Usava sempre saias de rodas bordadas, pretas. E era habitual vê-la descalça, a caminhar pela areia, de canastra na cabeça a bradar aos veraneantes estendidos no areal:
- Ólhó peixe fresquiiiiiiiiinhooooooo! Benham ber freguêses!! Sintam o cheirinho bom do pêxinhu fresquiiiiiiiiinhooooooo!!!!
No início ainda fez negócio mas, sem nunca ter percebido o motivo, os veraneantes foram desaparecendo daquela praia. E sempre que a viam mudavam de direcção. Sãozinha equacionou duas hipóteses de tão bizarra deserção:
‘seria devido às salmonetas da água de que a Manela Moura Guedes falava na TV? ou será que seriam vegetarianos???’
Perto da praia havia a Lanchonete com música. Tinha vários meninos com um aparelho de som ligado e, enquanto dançavam o rip rop que era tocado no calçadão, brincavam com seus skates ou conversavam sentados nos encostos do banco que estavam em volta ou ainda estendidos sobre a areia. Raparigas de bikini reduzido assediavam a barraca do dono da lanchonete – o galã Bilha! Bilha estava, como sempre, sem t-shirt. Sempre fora seu lema a total transparência pelo que não escondia nada...ou quase pouco tapava.... (narradora cora...)
Bilha conversava sobre o último livro que lera: ‘Almanaque Disney - edição de Verão’ com a sua grande amiga e curtidonha de farras e bubas – Ivana!!! Yéh!! Ivana era uma ganda maluca!!! Com uma crista à punk desde bébé e um dente de ouro à frente para dar mais ‘style’ ao look, era sua tarefa vigiar a praia – tinha tirado um curso de respiração boca a boca no ano passado com um grande amigo de Bilha – o Zé do Pipo, o famoso vendedor de pipocas na Feira popular e que tinha ajudado Bilha na confecção de um dos pratos mais populares da sua lanchonete, o Bacalhau à Zé do Pipo. Certo dia, Zé do Pipo desapareceu misteriosamente. Diz-se que se apaixonou perdidamente pela vendedora de algodão doce e que resolveram montar um negócio de maçãs granizadas na Patagónia...
Porém, Ivana apenas chorou uma lágrima com a partida inesperada de Zé... e que coincidiu com o cortar da cebola para o estrugido do seu jantar dessa noite. ‘Tá-se bem, meus!!’ . No dia seguinte enviou uma mensagem na garrafa de cachaça com que se embebedou na noite anterior e atirou-a ao mar esperando que navegasse até à Patagónia. Dizia o seguinte:
‘ Zé d’ Pipo: Curto-t bué. Pá, tá bisto k curtes algodão doce e k’ eu curto dents d’ouro! Ganda nóia!! Lol ‘
Infelizmente, era o drama, a tragédia, o horror! (narradora assume voz nasalada de Artur Albarran, o espancador tio de Cascais). A garrafa partiu-se de encontro a um rochedo e a mensagem escrita num pedaço de papel higiénico gamado ao WC da lanchonete do Bilha desfez-se... e foi-se alojar no interior de um peixe-aranha.
* * *
Mais adiante no areal aproximavam-se da lanchonete as três grandes malucas: Carminho, Maria e Madalena.
Carminho era a s.n.o.b. oficial da zona. Maria e Madalena revelavam que eram as iniciais para: Só Namoro Originais Brasonados ou, então, para Sou Natural e Ostensivamente Bonita. Vinha, como sempre, vestida com as mais recentes novidades Chanel que a mamã Gracinha lhe trouxera do desfile parisiense. Um tailleur rosa claro, com uma flor de tecido branco ao peito, um longo e original colar de pérolas e uma carteira a condizer. Nos pés só permitia sapatos Manolo Blanik, desta vez de salto raso e rosa velho. Apesar de ser difícil caminhar com tamanha elegância no areal, Carminho comportava-se como se sempre tivesse sido assim. E, de facto, foi sempre assim!!!! Nariz pequeno e empertigado, bochechas rosadas de blush e uma pele branca e imaculada como os seus antepassados Sir John e Madam Piggy Concubine.
Maria, por seu turno, era a rapariga mais ingénua das redondezas. Caminhava de pés descalços sobre a areia e, nos cabelos longos e soltos, levava preso um girassol colhido no jardim da casa dos seus vizinhos da frente. Pouco falava porque estava sempre a sonhar...com o seu príncipe encantado que surgiria montado num cavalo (ou podia mesmo até ser um burrito) branco, a galope em direcção a si, com o intuito de a levar refém e fechá-la consigo na mais alta torre do Castelo de Guimarães. Uma vez achou mesmo que o sonho se estava a concretizar e o seu coração bateu, bateu!! Ao longe, à beira-mar, um cavalo e um jovem de porte altivo...Mas rapidamente se deu conta (principalmente depois de ter colocado os óculos) de que era o Conde Châteaux Blanc (mais conhecido entre a plebe como José Castelo Branco)! Que pena! Nesse dia ficou inconsolável e chorou 30 horas seguidas. Secaram as lágrimas, mas continuou a chorar com as gotinhas de soro fisiológico que fazia escorrer pela cara abaixo... Como depois ficou com os olhos tão inchados como um peixe, teve que ir ao talho e comprou dois bons bifes e pô-los em cima dos olhos. No dia seguinte estava como nova!!
A completar o trio maravilha ia a Má-dá de Madalena, a sensata. Má-dá dava uma ajudinha na lanchonete do Bilha. Era ela que batia as natas para o famoso Bacalhau com Natas! E quem também descascava as batatas para o Bacalhau à Brás. E ainda era ela que fazia as bolinhas dos Bolinhos de Bacalhau!! Enfim, sensata e boa cozinheira... a esposa ideal...não fosse o facto de ter uma secreta predilecção por mulheres... Gostava delas, pronto! Aliás, a sua paixão secreta era Maria, mas nunca o confessou... A sua única insensatez tinha sido enamorar-se pela ‘princesa sonhadora’....
Má-dá jogava búzios e lia o destino nas espinhas do Bacalhau. Dizia que cada posta de bacalhau escolhia a pessoa que o ia comer... e assim devia ser. A comprovar a tese, o maior criminoso da área havia morrido sufocado com uma espinha de bacalhau que se alojou na garganta e o fez arroxear até à morte. Bem feito! Quem o mandou andar a assaltar o WC da lanchonete e gamar os toalhetes de papel e o sabonete líquido!!! Patife!! Escória!! Não admira a alcunha: ‘O Cheirinhas’...Snifava cola e tudo o mais que viesse de encontro ao seu nariz e vice-versa... Uma vez Bilha apanhou-o a snifar o seu Bacalhau à Espanhola e avisou-o :
« - Vê lá se não queres acabar como o João Ratão que caiu no Caldeirão»...
* * *
Estava já a entardecer enquanto as três estarolas (Carminho, Maria e Má-dá) andavam a passear pelo areal. Pararam junto ao mar, de frente para uma zona rochosa e molharam os pés. De repente, Maria dá um gritinho púdico: ‘ Ai! Vejai, vejai! Que lindo! Conchinhas!!’ ao que Carminho ripostou:
‘ Ai querida! Que histeria, que pindérica! Nunca viu cônchas?! que pobreza, que horrore!! A menina é do piôre, deixe que lhe diga!’
E a sensata Má-dá interveio:
‘ Não seja assim Carminho. Está a ser injusta com a Maria. Tem que pesar os dois pratos da balança e alinhá-los antes de atirar pedras aos outros..’
‘ Atirar pedras? Uau, que óptima ideia!!’ – disse Maria.
‘ Têm razão queridas! É super-bem atirar pedrinhas ao mar! Vamos fazer um concurso e ver quem consegue atirar mai longe!’
Como Carminho insistiu que tinha que ser a iniciante do concurso, Maria teve ainda tempo de pegar numa concha e encostá-la ao ouvido para ouvir o mar...Era tão romântica a nossa menina (não fosse o facto básico de ser com búzios e não com conchas que obteria o efeito pretendido! DAH!!!!!!!!!)
E as três da vida airada atiraram pedras e mais pedras e ainda mais pedras, sem parar. Os braços já doíam mas elas continuavam a lançar pedras. E as pernas já tremiam e elas continuavam mesmo assim a atirar pedras! Pedras e pedras, calhaus e calhauzinhos.... Sem parar, como viciadas de jogo, a suarem que nem frangos a rodarem no espeto! Estavam exaustas, os pés a sangrar de tanto roçarem em mexilhões perdidos na areia, mas lá continuavam....a atirar pedras.
(narradora descansa, porque já não pode mais imaginar tanta pedra no ar. Até uma guerra de flechas entre o Robin dos Bosques e inimigos seria menos extenuante. Ou mesmo os arremessos de pedras da invasão de Tróia!!)
* * *
De repente, pára tudo ao som de um:
‘- AAIIIIII! Porra, que levei com um calhau na mona!!!’
Maria, Carminho e Má-dá puseram-se à escuta, tentando perceber a sombra de um vulto que andava no mar, entre as rochas.
Entredentes, Maria sussurrava: ‘- Acho que magoámos alguém ...’

‘- Esteja calada, sua parva!’ – dizia Carminho, possessa e com início de uma enxaqueca! Que maçada!

Até que o silêncio se impôs. Nada se ouvia (quer dizer, nada se excluírmos a barriga de Má-Dá a dar horas p’rá janta...Esta juventude de hoje não tem modos nenhuns!)

Carminho comenta: ‘- O esfarrapado deve ter desmaiado...Vamos retirar-nos com discrição...’

Má-dá chocada disse: ‘- Maria do Carmo, não acredito no que a menina diz. Está a ser injusta com o esfarrapado. Tem que pesar os dois pratos da balança e alinhá-los antes de atirar pedras aos outros..’
Carminho furibunda: ‘ Está a insinuar, por ventura, que fui eu quem atirou a pedra ao esfarrapado?! É que não lhe admito! Com quem julga que está a falar?! Sabe quem eu sou, hum? Hum?’
Maria não dizia nada. Estava com um balão de pensamento sobre si... ‘Seria o esfarrapado o seu príncipe? O seu sapo que teria que ser beijado pela sua princesa? Era obra do destino, esse ganda maluco!’...

De repente, um enorme clarão!!!!
‘- Atão, miúdas! Tá-se?!’

Era Ivana!! No seu booggie!! E ao lado, Bilha!!

Carminho ficou roborizada. Apesar de jamais, em tempo algum, nunca (!!!) o admitir, o certo é que Bilha mexia consigo, revolvia-lhe as entranhas...
Mas depressa transformou o sentimento em raiva!! Que fazia ele ao lado da ‘pé de chinela’!!???
‘-Boa noite jóias! Que se passa?’ Luau?! – disse Bilha... (que, por não ter posto as lentes de contacto, confundiu o colar de pérolas de Carminho com uma coroa de flores havaiana, daí o equívoco...)

‘ Nah...Bilha. Isto cheira-me a leite choco...’ – disse Ivana. ‘Que reina aqui, chavalas?’

Maria, ingénua (dah!!!!) despejou tudo até ao homem esfarrapado, desmaiado no mar, em cima do rochedo.

Carminho fervia por dentro e Má-dá aceitava com sensatez o que o destino lhe trazia... Eram as energias kármicas... (gandas tolas!!!)

Ivana, corajosa fez-se ao mar, com a prancha de surf debaixo do braço (uma vez que com as rochas não dava para curtir ainda as ondas...) e chegou perto do tipo esfarrapado.

‘- Ganda bronca!!’ – disse para si.

Voltou junto do grupo e informou que o tipo:

1 – era não só esfarrapado, como estava roto de todo, com um alto túnel na tola!

2 – estava cheio de sangue, o que era chato porque ia atrair moscas que a iam chatear no equilíbrio em cima da prancha!

3 – estava mais rijo que o seu rabo! (e Ivana, hiper-desportista, tinha a fama e o proveito de ser o bum bum mais durinho das redondezas!

Efectivamente, o tipo tinha batido a bota. Ivana trazia a arma do crime... um paralelo!!

‘Um paralelo?!’- disseram as três suspeitas do crime em uníssono.

‘-Mas nenhum de nós pegou em paralelos. Estávamos a jogar à pedra no charco. Pedra, pedrinha.... pequenas portanto. Isso não pode ser obra nossa!!’– disse Má-dá.

‘Pois, pois...’ - pensou Bilha. Mas, porreiraço como era disse:

‘- Tive uma ideia. Vamos salgar o gajo. Metêmo-lo debaixo de uns bacalhaus que estão a salgar na minha arrecadação da lanchonete. Buté lá!! Animar pessoal!! Tirem essas caras de enterro!!

(Bilha era fixolas, mas às vezes despassarado. As caras de enterro eram adequadas àquela situação. Efectivamente, alguém tinha morrido. Ai, ai, narradora sofre.....)

E lá foram todos (até Carminho) com o tipo ao colo....Era pesado, o estafermo! Chegaram à arrecadação e esconderam-no consoante as instruções de Bilha.
‘- Ele vai ficar fresquinho. É inegável o poder conservador do sal!!!’

(Mais recuado no tempo...voltando à cena e local do crime...Antes de aparecer o clarão dos faróis do booggie da Ivana... alguém estava por detrás do paradão....Alguém que viu tudo. Uma testemunha secreta....

O mistério, o drama, o assassínio:
- Quem estaria no paradão?
- Quem mandou o paralelo ao esfarrapado?
- O que faziam Bilha e Ivana na praia e de booggie? Quem estava a tomar conta da lanchonete e a fritar os pastéis de bacalhau?
- Quem disse à Carminho que um fato Chanel é a roupa ideal para se usar na praia?
- Porque é que Sãozinha não redefine a sua estratégia de negócio e se associa ao Bacalhau do Bilha?
- Será que Zé do Pipo e mulher declaram todas as maçãs granizadas que vendem na Patagónia? Qual é a taxa de IVA na Patagónia? (aposto que deve ser também menor que a de Portugal...)
- Porque é que o sol é quente, o céu azul e o mar salgado?
- Quem sou eu, de onde vim, para onde vou?

(bem, se quiserem descobrir as respostas a esta teia de intrigas, não percam o próximo episódio da sua Novela, aqui na sua TVI (Televisão dos Imbecis)!!!!! Sempre em horário nobre!!!

(música de genérico: Grupo musical e de entretenimento ACEPIPES)

‘Para mim tanto me faz
que comas as peles do bacalhau
e quando te vejo a comer
é um auge...ai é, é, yeah !!!!
Não posso mais,
não tenhas medo
só te quero ajudar a tirar as espinhas!!
Do teu bacalhau!!!
Para mim tanto me faz
que comas as peles do bacalhau
e quando te vejo a comer
é um auge...ai é, é, yeah !!!!’
lá, lá, lá, yeah, ié!!!
E quem não salta não curte bacalhau, olé, olé!!!’

(acaba com solo de guitarra a grunhir...e partem a guitarra no final)




Agradecimentos:

Feira Internacional de Custóias (guarda roupas, fatos imitação Chanel), Câmara Municipal de Matosinhos (pela permissão de filmagens na areia), Bacalhau Ultra-demolhado Pascoal, Bacalhau da Noruega e Bacalhau Ribeirão Alves, Lacas e Maquilhage Loja ‘é tudo a 1 euro’. Boogie cedido gentilmente pela sucateira Moreira & Netos, Lda.


Autoria – Produções ‘Esgotamento Nervoso’

Actores

Sãozinha – Sotôra Pintora Manu
Maria – Sotôra Xhoena
Má-Dá – Sotôra Mercer
Ivana - Sotôra Cláudia
Carminho - Sotôra Li
Bilha – Sotôr Davide

Figurantes – Bacalhaus e Paralelo


(31 Agosto 2005)

domingo, janeiro 22, 2006

Um para dois


O rescaldo da noite passada deixa antever a agitação que este grupo causou em terras mafiosas...
Para além da pasta, que em abono da verdade existia na razão de um para uma, sendo os cogumelos e o bacon na razão de um para vários e a sangria de vários para alguns, a animação existiu sem cálculos possíveis.
A menina aniversariante, com seus caracóis encapuçados, estava linda, a fazer juz ao grupo. Algumas lágrimas foram vertidas, sim. E a emoção tomou conta de todos no momento do brinde.
Depois de um começo tipo Grupo de Auto-Ajuda, terminamos afogando a loucura em chá e narguilé. Sim, somos sem sombra de dúvida uns malucos rebeldes que, sem apelo nem agravo, arrasamos com as normas socialmente instituídas. Nós podemos!!

Entretanto, fica aqui o desejo: Para quando a revelação ao mundo do belo projecto Bacalhau com Natas?

Aguardo, com emoção... sofrendo por dentro.

Beijos para todos, na razão de um para cada bochecha.


sexta-feira, janeiro 20, 2006

Em véspera de festança

Foi no ano da graça de 1980 que o mundo a viu nascer.
Menina de olhos vivos e atentos, Madalena deu o seu grito (não de Ipiranga...) no dia 21 de Janeiro. E nada mais ficou igual.

Hoje, 26 anos depois, o mundo continua pendente... Como se soubesse que a qualquer momento esta jovem, agora mulher, estivesse prestes a gritar: Sim! Aqui vou ser feliz! Serviu!".

E de facto, espectante anda o planeta e as gentes que nele habitam! Para já, o Grupo Mais Giro não resiste... e envia, através do pó das estrelas e dos raios de sol, o desejo de que este dia 21 seja vivido com muita, mas mesmo muita alegria pela bela Madalena. Parabéns linda!!!

Entretanto, os ânimos aquecem... e a comunidade sediada na Sicilia, espalhada por todo o mundo, e quem sabe na Europa!, prepara-se para nos receber. O ponto de encontro/convívio é ilustrativo do que este grupo pode trazer ao mundo: pasta, muita pasta, boa disposição, alhos (que estão em falta os que têm prefixos...), e tomates! Sim, é lá, nesse sítio onde Al Capone deixou seu carisma, que estaremos no serão comemorativo.

Sempre atentos e elegates (no superlativo sintético da coisa), os membros do gang "mai giro" não deixarão escapar nada.

Beijos de boas festas e votos. Só isso, votos. Que votar é um dever e um direito!

Por isso, depois da borga... botainde todos!!

Parabéns menina Madalena!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Como tudo começou...

Este é o início (suado) de uma aventura...
É o início de uma história.

Desvendando a pouco e pouco as loucuras deste grupo, denominado Mais Giro, por clara justiça e por clara insistência de inúmeras forças sociais e institucionais, este espaço será, em breve, um espaço aglutinador de gentes, povos, mundos....

para já fica a dica: o bacalhau é polivalente, é bom, serve-se frio (como a vingança), quente, em grupo ou isolado... Mas sempre, sempre, com classe e, se possível, com natas. Porque, como diz a elegante Carminho "É preciso saber estar em todos os contextos!".

Daqui lanço o mote, o Boggie, enfim, o desafio- A todos os membros do gang, do Grupo Mais Giro:

Coragem! As espinhas não nos vencerão! E o Bacalhau será aclamado! Viva as Natas! Viva o Bacalhau!


Ivana