quarta-feira, março 29, 2006

Quero sentir-te………….

Por entre as cortinas entreabertas entravam maravilhosos raios de sol que inundavam o quarto e me obrigavam a despertar. Ao meu lado dormias descansado e tranquilo: pela serenidade do teu rosto percebia que te sentias bem no refúgio dos sonhos - nessa dimensão onde nos encontrávamos tantas vezes… vezes sem conta … A distância física separava-nos e forçava-nos a encontros fugidios e instantâneos. Para compensar perdíamo-nos nos sonhos com encontros deliberados e intencionais.
Naquele momento, a radiosa manhã testemunhava como eu te observava ao meu lado. Os raios do sol tinham-me despertado e já não conseguia fazer-te companhia nos sonhos. Mas também não queria, pensava eu enquanto fechava os olhos, porque tinha-te ao meu lado… Percebia-o pelo calor que emanava do teu corpo semi-despido, pelo som do teu respirar e pelo teu cheiro impregnado no meu corpo! Como adorava ficar com o teu cheiro em mim! Depois de estarmos juntos, e naqueles momentos em que me sentia completamente alucinada pelo efeito da descarga de adrenalina que marcava os nossos encontros, era o teu cheiro que me viciava na recordação repetida do êxtase. Esse teu cheiro maravilhoso que invadia cada recanto do corpo por ti tocado, que se apoderava da roupa por ti tirada e que se fundia com o cabelo por ti beijado.
Voltei a abrir os olhos e não resisti e tocar-te. Passei a minha mão pelo teu rosto e senti a tua barba: rala e curta, de três dias apenas. Parecia desleixadamente esquecida e perdida nesse rosto jovem, mas como tudo em ti resultava de muita ponderação. Adorava sentir a tua barba na minha pele: arrepiava-me quando me beijavas lentamente o pescoço num envolvente abraço de reencontro! Aí sentia toda a intensidade do momento percorrer o meu corpo!
Retirei a minha mão do teu rosto doce e pensei na intencionalidade da nossa relação e no planeamento que lhe deu origem. Lembrei-me dos receios, medos e inseguranças que me confessaste ter tido no início, quando eu era apenas uma colega que nunca concordava contigo em nada. Tinhas receado que eu não aparecesse no primeiro encontro, porque achavas que eu nunca me interessaria por ti uma vez que eu era tão independente, forte, vivida e adulta. Ri-me quando me contaste…ficaste um pouco embaraçado com essa exposição.
Sorri ao pensar que desde o começo que conversávamos abertamente sobre quase tudo, mas eu não nos permitia falar do futuro nem tão pouco dar nomes às coisas. Tu agradecias a minha determinação com um olhar intenso e com a tua total entrega. Sentias como eu que não podíamos nem devíamos perder tempo com palavras e rótulos que resultam ocos. Concentrávamo-nos em nos dar um ao outro, em nos sorver até à exaustão…. mais um beijo …. mais um abraço… mais um carinho… nessa partilha que nos fazia sorrir de pura felicidade.
Não resisti a voltar a acariciar-te o rosto… mas desta vez o meu toque fez-te despertar… e abriste ligeiramente os olhos …. Os teus intensos olhos verdes espreitaram pelas pálpebras semi-abertas e estendeste o teu braço para mim. O meu corpo cansado entregou-se ao teu abraço e murmuraste-me ao ouvido “Quero sentir-te……………….”

3 comentários:

Ivana disse...

Só agora percebi... Obrigada pela partilha.

Fazes-me sonhar. E isso é a melhor coisa que me podes dar.

Um beijo amiga.

Madalena disse...

Pelo turbilhão de emoções que se seguiram as leituras (veja-se e sublinhe-se o plural) deste post, só agora consegui tecer algum comentário!

Maria, de seu nome, que de ingénua parece não ter nada, e saída da retaguarda da Carminho, brilhou com toda a sua força.

Pela expressividade conferida a este post percebo a "força" de momentos como estes.

Conseguiu Maria que recordasse e sonhasse, com momentos e sentimentos, que é de facto a melhor coisa que temos nesta vida.

(permita-me que lhe diga que até agora parecia não a conhecer)

Seja feliz!

Beijo

Madalena

Anónimo disse...

Há coisas que nos acontecem que nos fazem sonhar e escrever textos como este. Mais importante que escrevê-los e idealizá-los é vivê-los em toda a sua plenitude. Quando o escreveste Maria sei que muito idealizavas. O próprio momento que descreveste foi idealizado, resultando num recheio de detalhes.
Rápido percebeste que as coisas nem sempre correm como o desejado. Agora percebes que tudo ocorre por uma razão.... tudo.
Nada é ao acaso!!!