segunda-feira, dezembro 31, 2007

Um óptimo 2008 repleto de belas imagens "verdes".... e uma música verdusca para acompanhar



Quero um 2008 repleto de imagens verdes. Porquê? Porque sim. Porque adoro verde. Porque pode essa ser a cor da amizade. De uma amizade com sabor a maças verdes. De um amor que cheira a passeios no parque e a relva molhada da chuva da noite anterior. Porque verde significa saudável, amigo do ambiente e feliz!! E porque me apetece entrar em 2008 ao som desta música....

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Mosaico de Desejos Pessoais...


Porque por vezes uma imagem vale mais que mil palavras ... esta é a minha.
Um ano de 2008 sublime!

terça-feira, dezembro 18, 2007

HARE KRISHNA !!

E paz no mundo.

E mais esta hein? (versão mini)

Páro no semáforo em Arca d'água.
Ao meu lado, uma camioneta de uma padaria/pão quente.
O nome inscrito por cima de uma figura de baguetes e cestas em verga:
'PADARIA O FORNINHO DO MAR'

Abre o verde e prossigo. Dali até à Lapa a mente inquieta-se e a testa enruga:
- Que raio de nome! O Forninho do Mar?! Que metáfora, ou figura de estilo ou nota poética ou moeda de senso-comum é esta? Alguém ajuda?
E mais esta, hein?

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Maria Cristina!!!

Meus caros amigos do gang do Bacalhau quero deixar-vos aqui os meus votos de Bom Natal. Aproveitem cada momento daquele que é apenas mais um Natal, mas que deve ser vivido e sentido como se fosse o primeiro e o último. Não, nao estou tonta, nem virei a fã número um do Paulo Coelho. Simplesmente, acredito que por vezes a vida me proporciona pequenos momentos em que me é permitido ver e conhecer breves contornos de sabedoria.

Maria Cristina para ocês; que é o mesmo que dizer Bom Natal!!!!!!!!!!!!!



PS - Já pedi ao velhote das barbas brancas - aquele do Oh oh oh - para vos dar prendinhas boas que vocês são todos meninos bem comportados!!!
Hihihi

A minha Arvore de Natal de Boas Festas para todos vós!


Have
yourself a
merry
little Christmas.
Let your heart be light .
From now on our troubles will
Be out of sight.
Have yourself a merry little Christmas
Make the yuletide gay
From now on our troubles will be
far away . Once again as in olden days
Happy golden days of yore
Faithful friends who are dear to us
Gather near to us once more
Through the years we all will be together
If the fates allow
Hang a shining star upon the highest bough
And have yourself a merry little Christmas
merry
little
Christmas
NOW.

domingo, dezembro 16, 2007

Uma aventura da agente Mary

Os termómetros na rua marcavam 2 graus. Eram 6 horas da tarde e a agente Mary tentava o seu melhor para não escorregar no gelo que matizava de branco os passeios da Bethnal de Green Road.

Como é bom chegar a casa depois de mais um dia de trabalho
– Pensou Mary ao rodar as chaves na porta do Flat B.

Correcção: depois de um dia de muito trabalho – Acrescentou a consciência da agente.

Na verdade, a missão da agente Mary em Terras de Sua Majestade a Rainha Beta não é fácil. Mas, suponho que esta verdade incondicional se aplica a todo o gang do Bacalhau!!! Portanto, adiante.

Depois de um banho qente e relaxante e após um jantar delicioso, elaborado mais uma vez pelo agente P, Mary no conforto da sua cama IKEA decidiu abrir o seu livro. Ainda não tinha lido mais que duas páginas quando ouviu um estrondo que lhe pareceu ter tido origem no quarto. No micro segundo que seguiu o estrondo a agente Mary sentiu-se escorregar para o meio da cama que estava ligeiramente afundado e onde já se encontrava o agente P com o seu jornal. O diagnóstico foi rápido e fácil de formular: alguma coisa tinha partido na cama pois o colchão afundava-se por entre as ripas de madeiras que constituiam o estrado.

O caso parecia mal parado, e num misto de apreensão e receio pela confirmação do diagnóstico os agentes decidiram aventurar-se e saíram da cama semi-afundada. A primeira tarefa foi a de levantar o colchão por uma das pontas para rapidamente se perceber que os parafusos que sustentavam o estrado tinham saltado, o que causou o estrondo seguido do afundar das ripas de madeira e do colchão.

O agente P queria extravasar a sua raiva na pessoa que montou a cama IKEA, pois tudo parecia ter origem no processo de (má) montagem. Rapidamente se percebeu que o conserto da cama não seria rápido. Além do mais não havia luz sem ser a dos candeeiros IKEA. Uma solução rápida era necessária e eis que o agente P sugeriu:

Tiramos o colchão do estrado e colocámos no chão entre os armários da roupa IKEA e a cama IKEA.

Se tão depressa se disse ainda mais rápido se fez.

5 minutos depois os agentes dormiam num vale de lençóis um tanto ao quanto “diferente”.

E para quem pensa que a história acaba por aqui desenganem-se. Imaginem agora no dia seguinte a agente Mary a tentar movimentar-se no quarto agora atolhado com um colchão IKEA no meio do chão, e imaginem as tentativas da dita para não pisar o agente P nas múltiplas travessias de uma ponta do quarto à outra – feitas invariavelmente por cima do colchão. E imaginem ainda as dificuldades sentidas para abrir os armários IKEA quando as portas batiam no colchão IKEA impedindo o acesso à roupa, aos sapatos, aos acessórios,....

E depois de uma autêntica maratona de obstáculos digna dos saudosos Jogos sem Fronteiras a delícia que foi chegar á rua e tentar IceSkating até ao escritório.

Moral da história:
As coisas do IKEA são engraçadas e económicas, mas se não forem bem montadas depois quem se lixa é quem as usa!!

sexta-feira, dezembro 14, 2007

E aqui vai tudo o que até agora escrevi até empancar!

O Pedido (2)


- Ora bem, hoje falamos do conceito de Destino. O que é o destino? Destino é um conceito que expressa a noção religiosa e idealista de uma força sobrenatural que predetermina todos os acontecimentos na vida das pessoas. Segundo a mitologia da antiga Grécia, a sorte das pessoas e inclusivamente dos deuses dependia do destino. Com o passar do tempo, começou-se a representar o destino como justiça suprema que regia o mundo ainda no universo dos gregos. Já no cristianismo o destino aparece como providência divina, do ser supremo. Aliás, a ideia do destino como predeterminação divina é inerente a todas as religiões contemporâneas. Por exemplo, no protestantismo, apresenta um carácter fatalista claramente expresso na corrente do fatalismo da qual já falamos antes. Nalgumas correntes religiosas como por exemplo, no catolicismo e na religião ortodoxa, já existe uma clara intenção de minimizar o fatalismo das representações do destino. Alguém imaginará o porquê?

- Talvez por causa do livre-arbítrio, professsor?

- Exactamente António! Porque existe já uma combinação digamos que eclética da ideia da predeterminação divina com o livre-arbítrio do individuo. Muito bem. E para aquilo que nos importa verdadeiramente, para filosofia, como é utilizado este conceito do destino? Alguém arrisca?

Na sala, fez-se um silêncio pensador. João prosseguiu:

- A filosofia utiliza-o para exprimir o conjunto de circunstâncias que ocorrem na vida de uma pessoa ou de um povo inteiro. Não muito diferente do senso-comum pois não?

Todos acenaram com a cabeça. João continuou o discurso que mantinha todos em estado de alerta.

- Como se aperceberam, o conceito de destino atravessou diversas fases, desde os antigos gregos até à actualidade. E ainda hoje o próprio conceito é debatido, visto que para umas correntes de pensamento é associado a algo que é por exemplo, sinónimo de sorte e para outras, algo que simplesmente diz respeito ‘à ordem natural estabelecida do universo’, como por exemplo eu também escrito num dicionário moderno. Mas, o que gostava que retivessem aqui hoje é, que na sociedade grega também existia a ideia de destino, ou seja, de uma força superior à vontade dos homens e dos deuses que determinava o que tem que acontecer. E essa força era o que regia também a vida dos deuses. Quem pensava que a mitologia era a maior força ideológica desengane-se. Mesmo não sendo algo científico, mesmo pertencendo ao campo das ideias, o que é certo é que, até hoje nos nossos dias, há quem acredite que toda a sua vida é determinada pelo destino. Questões? Vá disparem!

- Professor, e qual é a sua opinião?

- Sobre o quê, Ana?

- Sobre isso, acredita ou não no destino como algo a que não se pode fugir?

- Eu? Ora bem, eu tenho a minha opinião formada. Sim, eu acredito no destino, ou melhor, eu acredito que existem acontecimentos aos quais não conseguimos escapar.

- Sério? E então o livre-arbítrio? – questionou António.

- E como é que sabes que esse livre-arbítrio não é já parte do destino? – devolveu João.

- Como assim? – lançou novamente António, com uma ruga vincada na testa.

- Pergunto como é que sabes que ao, ao escolheres ir por um determinado caminho, não estás já a obedecer ao teu destino?

- Não sei. – disse António – Mas eu não acredito no destino.

- Muito bem, essa é a tua posição e quanto aos restantes?

Um burburinho de vozes começou a ganhar vida na sala de aula e João animado, olhava para os alunos, satisfeito com o interesse que tinha conseguido despertar. Entretanto, esgotara-se o tempo e teriam que regressar à questão no dia seguinte. João pediu a todos:

- Vá, pensem nisso e amanhã queria ouvir a posição de cada um, devidamente fundamentada! Até amanhã, minha gente!

A sala rapidamente se esvaziou. Enquanto arrumava as suas coisas e se encaminhava para a sala dos professores, João matutava na resposta que dera à sua aluna e na pergunta que ela lhe fizera. Normalmente, evitava emitir as suas opiniões pessoais para evitar influenciar as opiniões daqueles jovens a quem ele queria incutir o gosto do permanente questionar sobre as coisas. Claro que a resposta à pergunta estava mais do que ensaiada. Aliás, nem lhe ocorreria debater um tema sobre o qual não tivesse uma opinião previamente formada. Era um pensador nato. Adorava leccionar filosofia, não pelo debitar das correntes de pensamento e das teses que cada filósofo concebera. O que lhe dava prazer puro era justamente o debate aceso que essas mesmas teorizações, essas metafísicas geravam entre mentes tão jovens.
Jovens que não aceitavam as teorias de mão beijada. Emitiam a sua opinião e João moderava sempre o debate. Claro que, muitas vezes, havia que incutir alguma moderação, tal o à-vontade que se gerava nas aulas. Queria que as aulas servissem para exercitar-lhes a mente, para se libertarem dos constrangimentos, para talvez se encontrarem … em último caso.
E nesta aula, no entanto, sentiu que divulgara algo de muito pessoal e lembrou-se de imediato de Rita, da conversa que ambos haviam tido há algum tempo atrás acerca do destino…

'Acreditas nisso mesmo, João?' - havia sido a sua resposta.

' Sim, acredito e se hoje aqui estamos é porque o destino nos juntou. Sim, acredito.', dissera-lhe com maior convicção.

' João, meu querido, não me leves a mal, mas realmente isso é algo um pouco irracional já para não dizer limititativo, não achas?' - argumentara com desprezo - 'Quer dizer, se tudo está já pré-programado para acontecer, para que vale eu esforçar-me para conseguir algo?'

- ' Rita, mas ...'.
João não continuou. Olhou para Rita e depois para o chão. De alguma forma sentiu que, qualquer que fosse a sua argumentação de nada lhe ia valer. Rita não ia compreender o seu discurso.

Ficou triste. Foi nesse momento que, pela primeira vez, o seu discurso não fez eco no coração de Rita. Pela primeira vez, sentiu que não valia a pena debater aquela ideia, ele que vivia para isso, para o prazer de pensar e partilhar pensamentos! Olhou Rita em silêncio, enquanto ela estava a servir-se de um cálice de Porto e pensou que a amava e que isso era suficiente para si. Pelo menos, nessa noite.

Na Sala de Professores o ar estava pesado, abafado. Não existia ar condicionado e as temperaturas desse Verão estavam anormalmente elevadas. Todos em redor utilizavam métodos para se refrescarem: uns haviam improvisado um leque de papel, outros bebiam água, outros ainda abanavam as mãos perto da cara...

João abriu o seu cacifo e colocou lá dentro a sua pasta. Preparava-se já para sair para ir almoçar quando uma funcionária lhe dirigiu a palavra:

- Senhor professor, desculpe. Tem um minuto?

- Sim, diga.

- Desculpe se lhe estou a atrasar o seu almoço mas gostaria de lhe pedir algo. Há já muito tempo que ando para ganhar coragem para lho pedir, mas confesso que sempre que vou tentar falar consigo fico como que muda...

- Mas, então porquê? Diga, não se acanhe! Desembuche! - disse João, tentando fazê-la sentir-se à vontade.

- Bem, no fundo, o que lhe queria pedir era algo de muito pessoal e peço que não me leve a mal o pedido. É que estou a tirar um curso de fotografia depois do trabalho aqui e tenho que fazer um trabalho específico em torno do modelo humano. E estava a pensar em ir mais longe, em tentar fotografar alguém e para além de captar o corpo, tentar captar algo que não se vê...entende-me?

- Hum, mais ou menos. Aquilo que tem que fazer é fotografar uma pessoa, certa?

- Sim, certo. Mas queria captar a alma dessa pessoa na fotografia.

- Hum, mas diga-me....desculpe, mas recorde-me o seu nome?

- Ah, sim, peço desculpa eu. Chamo-me Clara.

- Eu é que peço desculpa, sou péssimo a memorizar nomes, Clara. É uma crítica constante que os meus alunos me fazem. Mas continuemos, como pretende captar a alma com a sua objectiva?

- Pois, aí é que ainda não sei bem. Nem sei se alma será o termo mais correcto para chamar ao que eu quero. Como é uma pessoa da Filosofia, da mente, era mais isso que queria mostrar na foto. Que para além da matéria, do corpo, também a objectiva consegue captar a luz, a alma, o pensar...entende?

- Sim, acho que sim, Clara, embora assuma aqui que apesar de ser um apaixonado pela fotografia não conheço a arte na sua técnica. Mas, o que é que exactamente me ia pedir? Acabei por me perder... Lá está, sou um homem que pensa muito e se perde nos pensamentos!

Ambos sorriram e Clara finalmente expressou o seu pedido.

- Queria fotografá-lo a si.

- A mim?

João ficou, para além de surpreso, corado e Clara detectou o seu desconforto.

- Sim, a si professor João. Por favor, não me leve a mal. De algum modo, algo me diz que é a pessoa certa para o trabalho. Acho que tem uma luz diferente.

João não sabia o que fazer com as mãos, nem o que dizer. Estava atordoado. Sempre fora extremamente tímido e reservado e a ideia de ser fotografado por aquela mulher deixava-o nervoso.

- Olhe Clara...

- Olha Clara, insisto.

- Ok, olha Clara, sinto-me lisonjeado com o teu pedido. No entanto, não te queria já dar uma resposta. Até quando precisas dela?

- Não tem mal. Não esperava que ma desse de imediato. Eu espero, pode ser daqui a dois dias? Assim dava-me também tempo para eu lhe mostrar alguns pormenores mais concretos sobre o que penso fazer. Já sabe que me encontra sempre por aqui.

- Combinado, então. Dar-lhe-ei...quero dizer, dou-te a minha resposta depois de amanhã.

- Muito obrigada por considerar esta minha proposta, professor João. Eu aguardarei então.
Continuação de um bom dia e bom almoço. Até mais.

- Até mais.

João caminhava até à cantina da escola. Ainda estava estupefacto com o que acabara de acontecer. Mas mais ainda estava por não ter dito logo que não a Clara e ter arrumado o assunto.
Verbalizou algo que contrariava a sua vontade, que era a de ter imediatamente recusado o pedido.
Mas como era uma pessoa ponderada e de palavra, decidiu que ia pensar para poder tomar a melhor decisão.

'Engraçado, nunca tinha reparado na Clara. É simpática, mas fazia-a mais velha.' - pensou enquanto saboreava o prato do dia.


Captações (3)

O soalho estava visivelmente gasto. Era escuro, frio, velho. Nalguns pontos, havia uma ou outra tábua levantada; armadilhas para passos mais incautos ou menos familiarizados com aquele espaço. Nos cantos, portas pequenas em madeira conduziam a mente em imaginações acerca do que estaria por detrás de cada uma delas.

- Em pequena, vinha a este sótão muito poucas vezes, porque a escada era perigosa e nem sempre estava montada. A minha avó fechava sempre a porta do andar de baixo para impedir que me aventurasse a tentar vir cá a cima. Por isso, era sempre para mim uma enorme alegria sempre que ela me dizia: ‘Clara, queres vir ao sotão?’
Nem imagina, Professor, como eu ficava extasiada com essa notícia. E a cada passinho que dava com a minha avó por detrás a proteger-me para que não caísse parecia um aproximar para um pequeno reino de conto de fadas. Cada portinha destas tinha nesses tempos, para mim, maravilhosas surpresas. Achava que uma delas me poderia conduzir ao País das Maravilhas da Alice, veja bem!

João sorriu para Clara, que relatava com brilho nos olhos e disse:

- Esse tempo de infância é sem dúvida, tempo de magia, em que a nossa imaginação é infinita. Eu também tinha um espaço interdito em minha casa, que era o escritório do meu pai, também ele professor. Era o espaço dele, no qual apenas adultos tinham acesso, ou então, os miúdos a quem ele dava explicações. Miúdos que deviam ter os seus 16, 18 anos, por aí. Eu imaginava que o meu pai guardava no escritório um tesouro, escondido dentro de um cofre que estava por detrás de um dos enormes quadros que lá estava! Claro que, anos depois, a desilusão instalou-se quando constatei que apenas lá estava parede...e que não era herdeiro de um tesouro de esmeraldas e rubis!

Ambos riram e imediatamente se instalou um clima agradável entre os dois. Não era comum João falar acerca de si, mas nada daquilo era o seu comportamento habitual. O simples facto de ali estar já era como que um desvio da sua rotina, dos seus hábitos.

Desde aquele dia em que Clara o interpelara daquela forma inesperada e lhe lançara o convite que João foi assaltado com diversos pensamentos. Em vez de, como era habitual, simplesmente ter recusado de forma educada, predispôs-se a pensar um pouco sobre a decisão a tomar porque houve, nitidamente, algo em Clara que lhe despertou interesse.
Nesse final de dia, após a preparação da aula do dia seguinte, João sentou-se na sua cadeira de verga de sempre e, ao som de música ambiente, abandonou-se em divagações...

Tenho, então, dois dias para dar uma resposta. Hum, acho que não tenho coragem para estar ali parado a fazer poses para a máquina. Já quando a mãe me tirava fotos nos anos eu ficava sem saber o que fazer com as mãos! Não, acho que não sou capaz. Mas, ela também não me disse se é para ficar a olhar ou não para a máquina. Se calhar, são fotos diferentes, em que tenho que fingir estar a olhar para o horizonte ou algo do género...Aí acho que já me sentia mais confortável .... Captar a alma numa película fotográfica...hum, parece-me um grande desafio. É de facto, interessante... Como será que ela pretende fazê-lo? Talvez através do olhar? Dizem que os olhos são o espelho da alma... Se assim o fôr aí de facto penso que não iria estar tão à vontade...mas lá está, também nunca experimentei. Por acaso, tenho pena de não ter quase fotos de mim na infância e mesmo na adolescência. Podia aproveitar esta oportunidade para ter um registo da minha imagem para a posteridade e, ainda por cima, menos banal e artístico...E a Clara parece-me ser competente...É simpática, é mesmo curioso como por vezes, passamos diariamente pelas pessoas e nem reparamos bem nelas mas, no entanto, construímos imediatamente ideias acerca das mesmas, ainda que inconscientemente... Achava-a mais velha e que apenas se dedicava às tarefas da escola e ei-la ali à minha frente e percebo-lhe jovialidade no rosto, um trato muito agradável e um discurso de alguém que tem planos que passam além da escola...Sim, acho que quero fazer isto. Tenho que me pôr à prova e ver do que sou capaz...

Se nessa noite, João se deitou com a certeza de que a sua resposta a Clara iria ser favorável, na manhã seguinte já se levantou cheio de dúvidas. Enquanto se barbeava olhava-se ao espelho e ensaiava expressões faciais:

Ó meu Deus, não consigo estar com naturalidade nem aqui ao espelho, sozinho. Ela ainda se vai arrepender de me ter convidado para fazer isto... Se calhar, pensou melhor e mudou de ideias... Mas que desculpa vou dar para recusar. Não me apetece sequer ter que arranjar desculpas. Mas para que me dispus sequer a pensar nisto?

Passou água pelo rosto, penteou-se e saiu em direcção à escola. No carro, tentava não pensar sobre o assunto, mas este assaltava-o contra a sua vontade. Enquanto estacionava no parque dos professores, decidiu que seria no frente a frente que daria a resposta final.
Um sentimento ambíguo instalou-se, nesse momento, em João: queria que Clara lhe aparecesse imediatamente para lhe dar uma resposta que nem mesmo ele sabia naquele momento qual seria; mas, ao mesmo tempo, desejava não se encontrar com ela tão cedo, porque receava as palavras que lhe ia dirigir...


*

- Professor, queria agradecer-lhe mais uma vez o ter aceite o meu convite e vir conhecer o meu espaço de trabalho - disse Clara – Este sótão foi durante muito tempo, guarda-roupa da minha avó materna. Ela era modista para as senhoras ricas e era uma apaixonada por moda. Fez, em vida, mais roupa do que aquela que alguma vez irei ter. Alguns vestidos penso que nunca chegou a vestir, mas fazia pelo gosto, pela vaidade, ela mesma o assumia. Era uma senhora de um tempo futuro ao seu. Hoje em dia, estou certa que seria uma estilista famosa. Naquele tempo, deu-se por feliz por o meu avô lhe ter permitido trabalhar em casa... Fez-me mil e uma roupas para as minhas bonecas. Era aqui que ela passava por vezes horas a vestir-se com o que fazia. Era capaz de estar aqui tardes ou manhãs, só a experimentar e a ver-se ao espelho.

- Deliciosa a história da sua avó. Devia ser uma pessoa muito talentosa.

- Era sim. Pena não lhe ter herdado o jeito para a costura. Compro roupa feita e a verdade é que nem ligo a modas. Gosto de estar confortável, apenas. Acho que sou prática. Bem, mas como dizia, este espaço é agora o local onde me inspiro e onde tiro fotografias, porque permite-me luz directa vinda daquela clarabóia, e também ausência de luminosidade para outro tipo de trabalhos fotográficos. Trabalhos, ou melhor, experiências. Como lhe disse, apenas ainda ando a aprender a arte, que imodéstia a minha deve estar a pensar.

- Clara, ninguém nasce ensinado. E ainda bem, senão estaria desempregado!!

Ambos riram e novamente um sentimento de empatia mútua se sentia no ar.

- A sede de conhecimento é meio caminho andado, mas o caminho faz-se construindo, passo a passo, tentando e errando, trabalhando. As suas experiências são o seu trabalho, o fruto do investimento de tempo e esforço em prol da sua sede de conhecimento. Não se trata de imodéstia. bem, mas parece que estou em sala de aula a dar palestras. Diga-me então, Clara quais as suas ideias. Tem a palavra.

- Muito bem, Professor, estou a pensar tirar as fotografias aqui mesmo e jogar com a luz natural e artificial deste espaço. Apesar de ainda cá não estarem, encomendei umas telas de fundo que também pretendo usar nas fotografias. Não queria fazer montagem digital, ainda que não exclua essa possibilidade. Queria mesmo que fosse da forma tradicional, à antiga, entende?

- Sim, estou a acompanhar...

- Bem, antes de mais, trouxe-o cá hoje porque queria que, antes que me dissesse se aceita ou não ir para a frente com esta minha ideia, conhecesse bem o espaço, se ambientasse a ele, o sentisse digamos, como seu, progressivamente. Acredito que só criando esse sentimento de familiaridade estará à vontade para ser fotografado. Já lhe contei alguma da história deste espaço, para que pudesse de algum modo, dar-lhe vida, um significado. Propunha deixá-lo alguns momentos só para que pudesse, talvez, sentir o espaço, olhá-lo com alma....

- Olhá-lo com alma...- repetiu João, enquanto se embalava com as palavras doces de Clara.

- Sim, não apenas olhar para ele de relance. Mas antes, vê-lo pormenorizadamente, familiarizar-se com cada recanto, cada viga, cada tábua solta... Concorda com a minha sugestão?

João estava já a entrar naquele espaço. Acenou com a cabeça e viu Clara retirar-se pelas escadas ao fundo do sótão. O espaço era imenso, acompanhava toda a casa, também ela grande e longa. No centro era onde havia maior altura, porque era o pico do telhado. À medida que caminhava para os lados, também o tecto diminuía. No entanto, só mesmo nos cantos precisava de se agachar por completo. Era totalmente forrado a madeira de carvalho escura. Tinha um ar velho e gasto, rude. Ao mesmo tempo, o facto de estar extremamente limpo dava-lhe um ar de conforto. No chão estendiam-se dois grandes tapetes, quadrados, que não cobriam toda a área, mas grande parte dela. Cada um deles era cheio de cores. Dentro de cada tapete havia seis grandes quadrados, cada um com uma cor diferente, desde verde, castanho, laranja....

Ao redor, havia quatro grandes baús em madeira, antigos. João supôs que pudessem conter roupas da avó de Clara. Cada baú estava disposto em cada um dos quatro cantos, o que criava uma harmonia em termos de espaço.
Ao redor, as pequenas portas de madeira que, em vez de conduzirem ao País das Maravilhas dos sonhos de infância de Clara, apenas serviam como isolamento do resto do telhado. As portas tinham apenas como função. permitir arejamento do sótão e de vez em quando, a limpeza do telhado no seu interior.

João caminhava pelo sótão lentamente e olhava tudo ao pormenor. Havia dois grandes pilares de madeira, ao centro, a segurar a estrutura. Na parte mais alta de cada um havia focos de luz, que permitiam que fossem rodados consoante o desejo de direcção da luz.
Havia também uma cadeira estilo poltrona, forrada a pele cor de ameixa, com um candeeiro de pé ao lado antigo, em ferro. Faltava-lhe o abat jour. Num dos lados, uma corda de roupa estava atada em todo o comprimento e logo João imaginou que seria talvez aí que Clara fizesse a revelação das fotografias. Por fim, havia uma cadeira de pé alto, um tripé fotográfico e um puff em pele bege.
João tocou nas madeiras, como que ensaiando uma aproximação ao espaço. Tentou imaginar aquele espaço como seu e agradou-se com a ideia. Conseguia imaginar aquele canto como seu. E ficou contente por lá não ter encontrado o objecto que mais receava e que lhe bloqueara a decisão favorável: o espelho.

Quero fazê-lo. Vou fazê-lo – decidiu firmemente ali, sob o feixe de luz vindo da clarabóia.

( E pronto, mais ainda não consegui fazer. . .Falta de inspiração, desânimo, preguiça, tudo tem servido para não dar rumo a esta história...lá está, tarefa a retomar em 2008!)

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Mais um pedacinho de 'Trilhos'

Do recomeço (I)


Passava já da meia-noite e o vulto dirigia-se para o carro estacionado em segunda fila, mesmo em cima de uma passadeira. Tinha sido uma sorte não ter sido multada, naquela rua habitualmente povoada por polícias. Só se apercebeu disso quando rodou a chave do Alfa Romeo e se deu conta que tinha largado ali o carro da mesma forma impulsiva e irreflectida que com que tinha ido para casa de João.

«Vá lá, ao menos nisto tive sorte» - pensou, aliviada, enquanto ligou o rádio. Num segundo o carro era invadido pela voz de Bethânia:

Começaria tudo outra vez, se preciso fosse meu amor /A chama no meu peito ainda queima, saiba, nada foi em vão/ A cuba-libre da coragem em minha mão/ A dama de lilás me machucando o coração/ A febre de sentir seu corpo inteiro coladinho ao meu/
E então eu cantaria a noite inteira / Como eu já cantei e cantarei/ As coisas todas que já tive, tenho e sei que um dia terei/ A fé no que virá e a alegria de poder olhar pra trás/ E ver que voltaria com você/ De novo a viver nesse imenso salão/ Ao som desse bolero, a vida, vamos nós/ E não estamos sós, veja meu bem/A orquestra nos espera, por favor/ Mais uma vez, recomeçar... ‘

Levada pela melodia Rita pensava nas coincidências da vida. ‘Mais uma vez, recomeçar...’ - Sim, mais uma vez recomeçara a relação com João. Uma nova tentativa, uma esperança (ainda que moribunda) de que tudo encarrilasse entre ambos.
Da última vez que haviam ensaiado um recomeço, a iniciativa havia partido de João, que lhe aparecera de surpresa no seu apartamento acompanhado de uma garrafa de tinto numa mão e colocara essa mesma música de Bethânia a tocar na aparelhagem.

Rita sentiu um desconforto gerado pela mesma música, pela mesma situação.
Fê-la sentir-se uma idiota. Como se a música fosse presságio de que, mais uma vez, recomeçava algo destinado a ter um fim. Como se insistisse em cometer o mesmo erro.

Depressa parou o pensamento. Se havia coisa em que se recusava a acreditar era em tretas como o destino. A vida era feita de sucessos e insucessos, entremeados com tentativas e erros. Tão simples quanto isso. Estava consciente de que aceitara reatar com João. E ele com ela. O facto de terem tido uma conversa racional e de terem ambos concordado em tentar novamente era, para ela, naquele momento, suficiente. Calou o rádio e conduziu até ao seu apartamento, na Rua 23.
Mal entrou em casa, livrou-se dos saltos altos e enfiou-se no duche.
Relaxada, abriu a cama feita de lavado, retirou a foto de João da gaveta, voltou a colocá-la na mesa de cabeceira e adormeceu.


**

Cerca de duas horas antes, em casa de João:

- Rita, mas porque é que não respondeste aos meus telefonemas?

- Ó João, ando cheia de trabalho, de dead-lines; se perdia tempo em discussões intermináveis e filosóficas, não teria cumprido com as minhas obrigações e, consequentemente, não estaria aqui completamente disponível para te ouvir.

- Rita, é exactamente isso que me deixa fulo! Como é que consegues ser assim tão fria?
Tens ideia de como me prolongaste o sofrimento? Por algum acaso, ocorre-te que estivesse cheio de angústia, mágoa já para não falar a morrer de saudades? Não! Tu, com a tua racionalidade abafas toda e qualquer emoção, gela-te o sangue e pensas: primeiro, vou acabar o projecto, depois, se tiver tempo, falo com o João... É isso que sou para ti? Uma dita prioridade não prioritária? Um passatempo? O filósofo das horas vagas?
Rita olhava João com atenção e com tranquilidade. Escutou-o e quando este terminou disse-lhe:

- João, como deves imaginar, não és a única pessoa na minha vida. Não és o meu único pensamento. As minhas contas pagam-se com projectos finalizados a tempo. Nestas duas últimas semanas, entregar a tempo e horas o projecto da Casa das Artes era a minha prioridade, admito. E não, não penso nada do que dizes. Penso que és uma pessoa que, quando não estás assim de mal com a vida, tens um sentido de humor fabuloso. E muito menos desvalorizo a tua profissão. Sabes que sou anti-metafísica, que não sou dada a introspecções nem lamechices e que gosto do aqui, do agora. Exactamente por isso, estou aqui e agora disposta a ouvir-te com toda a atenção que me mereces. Gosto muito de ti, João. Não o duvides. Mas tens que me dar um espaço para mim e sobretudo, aceitares que sou como sou.

- Rita, sempre o espaço, sempre tu primeiro. E eu, Rita? Interessas-te pelo que sinto?

- João, sempre soubeste que eu nunca poria homem algum em pedestais. Gosto de mim, antes de todos os demais. Sabes disso. Não dramatizes. Sabes que te adoro. Não consegues ser mais racional do que isso?

- Lá estás tu e a tua racionalidade... Sim, até sei que me adoras. E eu também te adoro e uma das coisas que amo em ti é essa tua frontalidade. Mas não me podes abandonar durante 3 dias, não responderes às minhas chamadas e depois vires aqui e dares-me tempo de antena, a teu bel-prazer. Marcaste hoje esta conversa na tua agenda, foi?

- João, tu consegues ser bem mais superior do que isso. Cinismos não, por favor. As coisas são preto no branco: não estamos casados, nem nunca o estaremos. Temos uma relação, porque gostamos um do outro. Tal não implica, como definido desde o ínicio, que abdiquemos das nossas vidas profissionais, das nossas esferas sociais, da nossa vida privada... João, eu não respirei nestes 3 dias! Mal tinha tempo para me alimentar!

- Ok, Rita, até percebo que estivesses muito ocupada. Mas por isso mesmo, porque não vens cá para casa? Assim, via-te nem que fosse a dormir....

- João, paremos! Sabes bem que isso é inútil. Preciso do meu espaço, das minhas coisas.
Cada um no seu habitat, certo?

- Rita, não percebes que sinto a tua falta, amor?

- João, e eu? Porque achas que vim até aqui, desenfreada mal entreguei o projecto ao vereador?! Sabes quantos vermelhos passei? Hã? Tens noção? Vá, demoras a abraçar-me?


João desistiu e entregou-se num abraço a Rita e sossegou. Naquele abraço, aceitara as condições impostas por esta, mais uma vez. Após três dias incontactável, João apenas lhe deixara uma mensagem no gravador de chamadas a comunicar-lhe que após a sua ausência, assumira ‘abandono da relação e que tal marcava o término da mesma’.
Rita demorara ainda 24 horas a responder. Ali, naquela sala, assistia-se a um novo reatar...

Até quando? ’ – pensava João, enquanto se rendia nos braços delicados de Rita....
Ainda assim, Rita não quis dormir lá. Sentia-se frágil com aquela cena, talvez devido também ao cansado dos últimos dias, talvez porque tivesse medo de adormecer, acordar e até gostar daquela casa...

***

O despertar nessa manhã foi custoso. Talvez porque agora Rita havia permitido a si mesma relaxar. Nem sequer colocara o despertador. Sabia que ainda tinha muitas horas de sono para recuperar. Apenas despertou porque o seu corpo assim o estava habituado a fazer, todos os dias, à mesma hora: 7 da manhã. Quer fosse dia de semana, quer de fim de semana. Rita era assim: metódica, rígida. Acreditava que apenas tendo regras básicas podia ser perfeita. Era tremendamente perfeccionista, sobretudo no que dizia respeito ao seu trabalho, aos seus projectos de arquitectura. E, sobretudo, era altamente exigente consigo mesma, mas também para com os outros. E João não era excepção, bem pelo contrário...
Abriu os olhos às sete em ponto e, logo de seguida, tornou a fechá-los e adormeceu. Meia hora depois, um novo despertar e imediatamente, um novo cair no sono. E assim sucessivamente até perto do meio-dia. Até que, decidida, se ergueu e disse para si mesma:

‘Isto assim não pode ser!’ – saltando vigorosamente da cama e com raiva de si mesma, por se ter consentido dormir um pouco mais.

Ainda tonta, dirigiu-se ao quarto de banho mas teve uma sensação estranha. Sentia-se diferente, estava aborrecida, mal disposta. Ela que, independentemente da carga de trabalho, do cansaço físico, costumava encarar cada amanhecer com um sorriso rasgado!

‘Talvez seja fome. Dormi em excesso...e isso deixou-me assim.’ – pensou.

Tomou um duche rápido e vestiu-se. Enquanto preparava a sua taça de leite com cereais, era cada vez mais invadida pela sensação de que algo não estava bem. Sentia-se desconfortável, como se tivesse um sabor amargo mesmo por debaixo da língua.

A comida nem descia como habitualmente. Forçava-se a si mesma a comer.
Fez tudo como de costume, como se de um ritual de tratasse: tomou o pequeno-almoço, roeu a sua maçã verde, pegou na sua pasta de trabalho e sentou-se na poltrona verde virada para a grande janela do seu apartamento, com vista para o Jardim Botânico.
Desfolhava mais uma vez os detalhes do projecto da Casa das Artes. Fizera-o vezes sem conta, porque era demasiado presa aos detalhes. Mesmo tendo consciência de que dera o seu melhor, era como se isso não fosse o suficiente. Era um hábito seu: entregava os projectos aos clientes, de consciência tranquila. No entanto, em vez de os fechar, tornava a abri-los e olhava-os como se fosse o cliente, como se os estivesse a ver pela primeira vez. Percorria cada detalhe como se fosse novidade para si. E voltava a visualizar cada parede em três dimensões. Para Rita, nenhum exercício era melhor do que este. Sentia-se mais lúcida após a entrega de cada projecto, porque já não havia a pressão de um prazo. Raras vezes alterou seus os projectos. Quando os fez, guardou essas alterações para si e nunca as divulgava ao cliente. Assumia que o que entregara era bom o suficiente e que as suas alterações apenas tinham um significado: o de que ainda tinha em si mais criatividade, mais capacidade de ‘visionar’ as imensas e inesgotáveis oportunidades do espaço. Além do mais, criara um nome reputado na praça. Apesar de jovem, já muitas obras públicas haviam sido assinadas por si: Rita de Almeida.

Não estava em condições de voltar atrás em projectos. Admitir retrocessos, era admitir inseguranças, dúvidas, receios. E, isso, Rita jamais o faria. Isso retirar-lhe-ia o prestígio. Seria anti-profissional. E Rita vivia, antes de tudo o resto, para o seu trabalho, para a sua profissão. Corria pelo e para o trabalho. O resto era secundário.

Este seu traço era notoriamente fruto da rigorosa educação que tivera da parte do seu pai, um respeitado engenheiro civil. Ele mais do que ninguém recusava a irracionalidade, o não quantificável, o subjectivo, a preguiça. Quase que se recusava a ter sentimentos. Nunca pronunciara nos seus discursos as palavras ‘alma’, ‘amor’, ‘destino’ ‘sorte’...Para ele, tudo era invenção do ser humano, desculpas – dizia – para não trabalharem, para justificar insucessos, não ginasticarem a mente, o raciocínio. Homem de trabalho, apenas se permitia um momento de lazer durante o dia – ouvir Chopin. Nunca mais que uma hora, por dia.
Deitava-se com o cair do sol, erguia-se com os primeiros raios de luz. Trabalhava e cuidava de Rita. Dava-lhe a atenção que considerava a essencial. Não queria que Rita, apesar de ser filha única, se tornasse mimada nem excessivamente dependente. Impunha-lhe tempos e regras para tudo: para dormir, para brincar, para estudar, para comer e até para falar consigo! Não gostava de ser interrompido enquanto trabalhava e, como tal, das sete às oito e meia, Rita podia conviver com o pai.
Apesar de ser extremamente rigoroso, o pai de Rita não era, porém, desleixado nos afectos. Nutria pela filha um amor e uma imensa dedicação, tal como a que tinha pela mãe de Rita, uma enfermeira que havia falecido durante o parto da sua primeira e única filha. Por isso mesmo, esforçava-se em que o tempo diário passado com Rita fosse de elevada qualidade, ao nível de ensinamentos de vida. A forma como demonstrava o seu carinho expressava-se nos mais pequenos gestos: na flor que sempre lhe trazia e lhe colocava por detrás da orelha, no desatar e reapertar do laço do seu vestido (mesmo que ele já estivesse apertado), no beijo na testa de cada vez que Rita lhe oferecia mais um dos seus desenhos. Todos os dias lhe ensinava algo de novo e sempre em áreas de conhecimento distintos: zoologia, botânica, geografia, literatura, música...
Sabia como era importante que Rita conhecesse um pouco de cada ciência e de cada arte: ‘Só assim conseguirás escolher com rigor a tua profissão’.
E Rita, essa, adorava os momentos passados na companhia do seu pai. Admirava-o profundamente, considerava-o a pessoa mais inteligente do mundo, a sua fonte de inspiração, o seu modelo a seguir. O pai era o Mundo, para si.

Após a atenta análise do projecto concluiu que não havia nada a acrescentar. Fechou a pasta e sorriu.
No entanto, o desconforto... ainda o sentia.
Em vez de pensar sobre isso, levantou-se e resolveu sair. Pensou ‘ Vou apanhar ar, espairecer – ‘Isto passa’.
Agarrou no PDA e na pasta de alças a tiracolo, que a acompanhava sempre e onde levava o seu caderno de esquissos, para sempre que sentisse necessidade, onde quer que estivesse, pudesse render-se à sua paixão – desenhar.
Bateu a porta e resolveu aproveitar o dia, ainda que já a meio.

Árvore de Metal. Perdão! Natal, Natal...

Numa notícia no JN no início do mês lia-se o seguinte:


"A árvore é patrocionada por um banco, mas os comerciantes da Avenida da Liberdade não esperam tirar grandes dividendos. "Não vai ser nenhuma árvore das patacas", disse Orminda Gonçalves, proprietária da "Baratinha". O representante do "MillenniumBCP" tem uma opinião diferente, tendo por base o que sucedeu nos três anos de experiência anterior, em Lisboa. "Não é informação oficial, antes uma estimativa, mas os números apontam para um crescimento de 30%", disse Paulo Fidalgo."A árvore revitalizou por completo a Baixa pombalina", argumentou o director de comunicação do "MillenniumBCP". No Porto, os comerciantes estão na expectativa. "Pode trazer alguma gente, que até compre alguma coisinha, mas não vai ajudar nada aos comerciantes, porque a avenida está em coma, ligada à máquina". Quem fala assim é Orminda Gonçalves. Transmontana de nascença e portuense de criação, usa da franqueza tripeira e da contundência das gentes do Marão. "Esta zona vivia das pessoas que passavam. Tiraram daqui os autocarros e a rua ficou sem gente". "

Mais à frente sufoco de novo:

"A sala de visitas da cidade está transformada num monte de ferros", desabafou António Guimarães. "Olho das Cardosas e não vejo a Câmara". No quiosque do café "Garça Real", na praça D. João I, vai conferindo a fortuna, falta dela no caso, nas raspadinhas, pouco entusiasmado com a pista de gelo instalada na Praça D. João I. "Parece pequena", diz Rui Oliveira, enquanto avia cervejas e meias-de-leite."

Depois das árvores centenárias abatidas, depois da calçada portuguesa arrancada do chão da Avenida e depois da piscina sem vigilante em frente à Câmara, temos uma prenda de Natal mágica... A árvore de metal que ilumina os sem abrigo da baixa do Porto nas noites frias de Dezembro. Viva a solidariedade!

Mais um insólito - E esta Hein!?!?!

"Passar a noite de lua-de-mel num avião não é seguramente o melhor pograma. No entanto, se lhe dissermos que já o pode fazer dentro de uma romântica suite a bordo do Airbus A380, o melhor e mais avançado avião do mundo, talvez pense duas vezes. A Singapore Airlines é, por enquanto, o único operador deste gigante dos ares e pensou em todos aqueles que querem viajar com muita privacidade, dotando-o com 12 luxuosas suites, onde pode dar azo à imaginação.
Actualmente, este avião faz uma única ligação entre Singapura e Sidney, numa viagem que é feita durante a noite e que dura 7h30, contudo, já no próximo ano o serviço será alargado a Londres. Mas esta excentricidade tem o seu preço e uma viagem de ida e volta para duas pessoas a bordo deste avião custa cerca de 10 mil euros." (in Happy Woman, Dez. 2007)

Vejamos:

- Noite de Lua de mel num avião? Qual a piada?
- 12 Suites? Onde está a privacidade
- E se o avião apanha turbulência? Sim porque Singapore Airlines "manda" neste aviãozinho, mas não manda no tempo e no São Pedro, pelo menos que se saiba.
- 10 mil euros? Será que eles sabem o que é possível fazer uma este dinheiro? Eu sabia! E não era andar de avião numa suite luxuosa....

Mais uma excentricidade no nosso mundo!!!! E esta hein!

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Time-Out precoce - E Esta Hein?

O time-out é o nome que se dá a uma estratégia usada nos contextos educativos e não só e que basicamente consiste na retirada de alguém de um envolvimento positivo para um ambiente desagradável, em consequência do não cumprimento de determinadas regras ou da exibição de comportamentos indesejados por parte daquele.
Por exemplo: quando a professora manda o aluno que se porta mal para o canto da sala, virado de costas para os colegas.

Ora fontes próximas asseguram que o time-out começa a ser também ele aplicado pelos mais jovens em contextos fora da sala de aula, senão vejamos:

JP, menino louro de olhos azuis com ar angelical encerra avó materna em compartimento fechado.
A situação insólita ocorreu na passada segunda-feira quando nada o fazia prever. JP, criança com um ano e meio de idade movimentava-se livremente na cozinha da sua avó materna que, diariamente, cuida de si.
Ao lado da cozinha existe uma outra divisão pequena, um WC de apoio. Mal a avó entra na divisão, eis que o petiz fecha a porta e, não satisfeito, roda a chave, trancando assim a sua avó!
Sozinhos em casa, a cena começa a tornar-se desagradável pois a avó, apesar dos insistentes pedidos para que o pequeno JP lhe abra a porta, continua a ver-se encarcerada entre 4 paredes que começam a estreitar-se!
Enquanto isso, o menino dos cachos dourados delicia-se a explorar as prateleiras da cozinha e demais compartimentos até então de acesso negado.
Com evidente falta de ar, a corajosa avó persiste na sua luta por uma brecha de ar e consegue finalmente arrombar a porta e cortar-se na mão e, como não há duas sem três, rebentar com um cano de água que começa de imediato a espirrar em todas as direcções.
Impávido e sereno, JP assiste à cena.
Com ele permanece o segredo: que lição deveria a avó ter aprendido?

E esta hein??

E esta Hein!

Está a inaugurada a rúbrica "E esta Hein!", que iniciou com a Posta "Reuniões de Tupperware".
Basicamente esta será a rúbrica destinada a informação - porque o poder esta na informação que se possuí -, bizarra ou não, engraçada ou séria, e por aí adiante.
Novidades se avizinham!!!!!!

terça-feira, dezembro 11, 2007

A tarefa inacabada: retomar o ''Trilhos''


SONHO com o Trilho - ZERO


Estou num descampado. À volta, nada. Apenas poeira que levanta e me aflige a vista. Sinto a pele arrepiada. Está frio, aqui. Interrogo-me como aqui vim parar, mas não consigo pensar com clareza. Como se a poeira me tivesse entrado pela cabeça e toda a minha mente estivesse envolta num nevoeiro cerrado. Estou consciente de quem sou ‘Sou a Rita, tenho 30 anos’, repito para mim mesmo, em voz alta.
Mas até o som da minha voz me arrepia, porque ecoa neste vazio. Sinto uma solidão atroz. Uma vontade de escapar deste sítio árido, sem vida, seco.
Mas nem sequer me mexo. Estou absolutamente imóvel, como se desistisse logo desde o inicio. Apenas a mente deseja escapar, mas o corpo já desistiu, os músculos estão petrificados, rígidos. Tremem com o ar gélido que paira sobre um cenário nunca antes visto.
‘Terei morrido?’ – interrogo-me. Em catadupa, surgem uma série de ideias racionais: ‘ Não, se tivesse morrido, não seria possível sentir o corpo frio, porque com a morte a matéria sucumbe, perece, apodrece, termina.’ ‘Aliás, se tivesse morrido, não mais existiria corpo, porque os meus parentes teriam cumprido o meu desejo de ser cremada, mais um comprovante de que neste corpo ainda reside vida.’
‘Estou perdida. Algo de muito mau me terá acontecido. Terei sido raptada por um bando de criminosos que, após me terem feito muito mal (tanto que até apaguei essa terrível memória do meu consciente) me largaram neste fim de mundo?’
Começo a sentir pânico, a respiração a acelerar, mais e mais, o coração a bater, mais e mais, um frio terrível e, ao mesmo tempo, um suor que me alaga.
A vista começa a ficar turva, estranhamente embaciada. ‘Estarei drogada?’ – penso.
Lentamente, começa a aproximar-se de mim uma forma indistinta...
Esfrego os olhos – estão como que um vidro empoeirado – e a imagem continua a aproximar-se, a mover-se até mim. Porque eu estou ali, imóvel. É-me impossível mexer-me...mas a imagem caminha até mim, começa a ficar mais nítida, mais próxima...até que, a um passo de mim, pára. São dois trilhos de comboio...
Olho para os trilhos, duas direcções... e fico especada, apenas a olhar...No vazio, apenas eu e dois trilhos.


(Acima, o começo de uma história por contar. Uma dança que prometia ser longa, demorada e enérgica ... mas que simplesmente ficou adormecida cá dentro. Esta pode bem ser uma das metas para 2008 - retomar o meu trilho e decidir-me a dar-lhe um destino certo e seguro... L.)

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Reuniões de Tupperware!?!?!?!?!?!?

(Nota do contibutor: preparo o meu regresso a este blog à algum tempo, tempo este que escasseia nas 24h que me são disponíveis. No entanto, este mau regresso vai primar pela importância da informação e do conhecimento. Quero, tão simplesmente, que estejam, informados (as) e actualizados (as), sobre toda a realidade que nos circunda. Aqui trata-se exactamente daquilo que alguns sociólogos chamam “ver para além das fachadas”. Portanto apreciem a novidade e não se deixem enganar!!!!)


Todos já ouviram falar, e alguns já podem até ter participado, nas conhecidas e famosas reuniões das Tupperware, onde um conjunto de mulheres, e diga-se alguns homens também, se reunia para tomar chã e para “ver serem-lhe impigidas uma série de caixas de plástico com fins culinários”. Ora com base nesta realidade um novo conceito surge: o da Tuppersex.

“Ou seja, inofensivos lanches em que o mulherio continua a reunir-se, não para comprar tupperwares ou para trocar receitas, mas para assistir e uma demonstração de adereços e brinquedos sexuais e para, inevitavelmente, falar de sexo. O sistema é o mesmo de antigamente (…). Alguém junta em casa um grupo de amigas e convida uma demonstradora de tuppersex para animar a sessão, depois é só esperar que ela comece a tirar da cartola, ou da mala, cosmética erótica (…).

Importadas dos EUA, as tuppersex são actualmente moda na Europa, tendo-se tornado coqueluche das despedidas de solteira em Espanha. A Portugal chegaram, é claro, pela mão de uma brasileira.” (texto de Patrícia Brito in Guia da noite – LX magazine).

E este hein!!!!!!!!!!!!


NB: Pelos vistos a mala das demonstradoras é vermelha, dahhhh. Nota zero para a originalidade.

quinta-feira, dezembro 06, 2007

O Bacalhau está a soro...


Eis-nos chegados a uma situação que não mais pode ser ocultada. É oficial: o Bacalhau está a Soro!!
Eu, Carminho, resolvi assumi-lo. Sim, é verdade que o Bacalhau é belo. Também é verdade que o Bacalhau é jovem e na juventude a beleza é quase algo de implícito, de natural, para o qual se faz um esforço quase mínimo...
Mas apesar de tudo, constata-se que para manter a sua beleza, o seu dinamismo e aparência fresca e jovial, este Bacalhau recorre-se agora da cosmética, como aliada...
Sim, ele confessou-mo:

- Carminho, assumo! Uso um Soro Hidratante da Lâncome!

Perante tal, tive de imediato dois pensamentos. O primeiro era que pelo menos usava cosméticos de boa qualidade e não uma porcaria qualquer. O segundo pensamento foi o seguinte: o que é que um Soro faz pelo nosso Bacalhau que nós não o possamos fazer por ele??

Até que cheguei a uma conclusão - nós, tutores do Bacalhau é que somos o seu soro e não vai ser um frasquinho de marca estrangeira que vai andar aqui a fazer-nos concorrência!!!
Por isso, aqui está ele, o verdadeiro soro do Bacalhau com Natas!

BULA do SORO original do Bacalhau com Natas

Como é: soro nutritivo, estimulante e anti-fadiga, em frasco de 30 ml
Actua como mood-lift, com efeito imediato, atenuando os sinais de cansaço e promovendo sorrisos naturais, fluidos e espontâneos.

Efeitos: Deixa a pele mais luminosa, radiosa, suave e elástica dado que o soro promove sensações de bem-estar.

Quem deve usar: todos os contribuidores do Bacalhau com Natas.

Modo de aplicar: pelo menos três vezes por semana, em dias seguidos ou alternados, aplicando de manhã ou à tarde ou à noite, aplicar umas gotinhas. Estas podem ser através de um texto, um comentário, uma imagem, uma música, um vídeo, etc…

Preço médio: totalmente grátis!


(Capiche, pessoal??? Have I made myself clear?? Bora lá postar!)