quinta-feira, fevereiro 17, 2011

«Geração à rasca» ...

Ontem passou na SIC uma reportagem intitulada «Geração à rasca».

Bastante sensacionalista, extremamente deprimente mas reconheço que … realista, também.

Revejo-me nesta geração também ontem denominada como «Geração Deolinda».
A geração genialmente apelidada por este grupo musical como «Geração Casinha dos Pais». Pais que lutaram para que os seus filhos pudessem ter acesso àquilo que eles mesmos se viram privados na altura em que eram novos.
Pais que incentivaram e financiaram os seus filhos a prosseguirem estudos, crentes de que o «canudo» seria garante de estabilidade financeira e estatuto social privilegiado.

Pais que nunca sonharam ter os seus filhos a morar sob o mesmo tecto aos vinte e cinco, trinta, trinta e cinco anos, senão mais!
Pais que admiro porque persistem na luta pelo sonho dos seus filhos, trabalhando com afinco para ajudar os seus filhos no que for preciso (apesar de alguns deles poderem estar já na reforma). Pais que motivam, que alimentam a auto-estima debilitada de jovens a quem um dia prestaram ilustre homenagem na imposição das insígnias e chamaram de «senhores doutores» mas que nem uma resposta são dignos de ter quando respondem a anúncios de emprego.

Pais que me abordam e me entregam em mãos o Curriculum dos seus filhos, com olhos de gratidão antecipada postos em cima de mim, que pouco ou nada posso fazer por si, mas que em mim parecem depositar todas as esperanças do Mundo.
Tenho o maior respeito por esta geração que luta com muitas dificuldades em todas as frentes. A quem negam trabalho por falta de experiência e a quem negam trabalho por excesso de qualificações.

Custa-me muito passar os olhos por milhares de candidaturas que forçosamente tenho que excluir porque as vagas são limitadas. Guardo todas essas candidaturas pelo respeito que me merecem e tento (embora às vezes admita que não consiga por constrangimentos de tempo) responder a todas.
Sei que o texto é «chapa 5» que as pessoas estão fartas de ler que a sua candidatura fica em base de dados mas pelo menos acredito que dei um feedback à pessoa por detrás do papel, do email …

Acredito que quem está, como eu, numa posição mais confortável, empregada, com remuneração, enfim … que pode de alguma forma levar adiante alguns dos seus sonhos ao invés de os adiar continuamente por falta de condições, tem o dever de se esforçar um pouquinho mais.
Sei que andamos em tempos em que apetece fugir desta realidade e subitamente encontrar-nos debaixo de um chaparro a escutar o zumbido de abelhas. Tenho a noção de que não só os meus níveis de motivação andam na rua da amargura, como também andam os da esmagadora maioria dos meus colegas. Sei que o salário é sofrível e que está congelado há anos sem que ninguém dê uma única satisfação para que tal aconteça (até porque os resultados anuais têm sido positivos). Sei que vivemos tempos de crise instalada, mas custa-me ver que mais do que financeira, vivemos uma crise em termos de solidariedade e de entre-ajuda. É um salve-se quem puder, um baixar de braços colectivo, um querer gritar mas nem isso fazer porque o mais certo é todos ouvirem mas ninguém deitar a mão …

A Inês Pedrosa dizia numa das suas belas crónicas de fim-de-semana que temos que dar alento a estes jovens, porque tal como ninguém adivinhava a revolução tecnológica espantosa que aconteceu em tão pouco tempo, a mesma incerteza e imprevisibilidade se pode aplicar aos tempos vindouros. E que, por isso, mais vale ter esperança que esses serão de prosperidade, de emprego, de novas oportunidades. Tento abraçar esta ideia e não a largar, segurá-la com firmeza!

Numa altura em que as audiências se concentram num programa que procura o talento em Portugal só me ocorre pensar que esta geração é talentosa, só é pena que todos teimem em negar-lhes palco…

A reportagem de ontem terminou ao som da genial letra dos Deolinda e pensei para comigo que até nisto eles têm razão: «Sou da geração ‘vou queixar-me pra quê?/ Há alguém bem pior do que eu na TV.»

1 comentário:

Madalena disse...

E está tudo dito!