segunda-feira, abril 03, 2006

Borboletas e crepes de menta e chocolate.....

Começamos a encontrar-nos no espaço virtual. Adicionaste o meu e-mail à tua lista de contactos durante um fim-de-semana que passei particularmente ocupada em frente ao computador. Estava a preparar um daqueles trabalhos que o meu patrão distribuía às quintas-feiras ao meio da manhã acompanhado do anúncio de “era para ontem, mas dou-vos até 2.ª feira de manhã às 9h30m!”. Ficávamos todos de mau -humor pois o fim-de-semana ficava logo comprometido: era impossível apresentar um bom trabalho em apenas dois dias úteis. Para piorar aquele era um dos nosso melhores clientes, o que significava trabalho a dobrar para justificar os 3.000€ por projecto!
O meu estado de espírito quando te vi on-line pela primeira vez era propício à conversa: no meio de tantas folhas de papel, balanços, DR’s e balancetes, ficheiros de Word e Excel e mais contratos e documentos referentes nem sei a quê, qualquer motivo era bom para desanuviar e fazer um intervalo. O facto de não ter de sair de frente do computador para falar contigo fez com que não me sentisse tão culpada por não estar a trabalhar com todo o afinco necessário. E depois tu estavas, como sempre, pronto a conversar com todos os que aparecessem por ali. É um dos teus pontos fortes: essa capacidade fabulosa de conversar com todos sobre qualquer coisa, conseguindo unir à volta de uma conversa pessoas diferentes com opiniões distintas e até contraditórias. O olhar intenso que projectas através desses olhos doces acastanhados é outra das tuas armas de sedução, que a para do tua jovialidade e da comunicabilidade me cativaram.
As conversas foram-se tornando diárias e cada vez mais interessantes. Eu sentia que me aproximava de ti ... que nos íamos conhecendo aos poucos em cada nova conversa.... Tudo estava a acontecer de uma forma tão rápida e intensa que dificilmente dava para acreditar que nos conhecíamos há pouco mais de três semanas.
Na segunda semana de conversas na Internet já estava em mim instituído o ritual de ao entrar em casa me dirigir de imediato ao computador, fazer o login e encontrar-te tão disponível para mim. Começávamos a conversar mal eu chegava a casa, fazíamos uma pausa para o banho, outra para o jantar e depois, muito a custo lá nos despedíamos para irmos ao café ter com o respectivo grupo de amigos. Ficava no ar, implicitamente marcado, o encontro virtual do dia seguinte. Finalmente convidaste-me para passar no café que frequentavas, a pretexto de nos reunirmos com a turminha de novo. Nem hesitei e aceitei logo o convite! Disse-te que tinha saudades do pessoal, mas omiti a falta que me fazias… na verdade ainda não o tinha percebido. Tomamos uns copos e como era sexta-feira deixamo-nos a filosofar pela noite dentro. A presença dos nossos colegas não nos impediu de nos dedicarmos uma especial e particular atenção que estava latente nos olhares que nos dedicávamos. Despedimo-nos com a tua promessa de reatar no dia seguinte a conversa entretanto interrompida. Mas não apareceste durante todo o fim-de-semana e quando me deitei no domingo sentia-me verdadeiramente incomodada com tua ausência que me parecia forçada, pois parecia que fugias à conversa mais intensa que se tinha iniciado entre copos na 6.ª feira à noite.
No dia seguinte perguntaste-me em tom de desafio porque não te falava há três dias. Disparatei tanto que sentiste necessidade de me compensar e limpar a tua imagem. Convidaste-me para um café a dois e fizeste questão de me fazer uma surpresa. Só quando estacionaste em frente à praia percebi que estávamos num dos meus locais preferidos em toda a cidade. Descemos até ao bar da praia que nos recebeu no aconchego do seu interior a meia-luz. Pediste um café para ti e de surpresa um crepe de menta e chocolate para mim. Quando vi o empregado a colocar os talheres na minha frente percebi que estavas realmente a esforçar-te. Foi uma noite agradável com uma conversa límpida e intensa. Falaste-me da tua infância e adolescência, da tua peculiar avó que ainda manda e desmanda a seu belo gosto e do teu avô adorado que já partiu. Só pela forma carinhosa com que te ouvi falar dele era capaz de te amar, se mais nenhum motivo existisse. Discutimos sonhos, objectivos, projectos de carreira e medos. Confessaste-me o teu medo da dor e do sofrimento, mas não os físicos, com esses achavas poder bem. Temias aquela dor que nos racha o coração e nos faz deambular pelas ruas e avenidas sem rumo e sem sentido. Já tinhas sofrido muito e não querias repetir, mas sabias que isso poderia ter um preço. O preço de deixarmos fugir pessoas fabulosas. Perguntaste-me pela minha maior loucura e chocou-te saber que ainda não tinha feito nenhuma – pensei para mim que estar ali contigo era de tudo o que já fiz o que mais se parecia com uma loucura. Confirmaste as tuas suspeitas: eu era uma menina de papá, certinha e atinada que sempre tinha agido de acordo com as expectativas dos outros sem me desviar um milímetro daquilo que era considerado adequado para mim. Arrepiamo-nos em conjunto quando percebemos que a primeira banda sonora da noite era da Maria Rita, a senhora que me emprestava o mote no ciberespaço. Quase que paralisamos no momento em que escolheste o meu dia de aniversário – por pura coincidência – para assinalar uma recordação. Mas foi uma paralisia e um arrepio bom que nos percorreram e nos arrefeceram de uma forma deliciosa.
Quando já me levavas para casa paraste o teu carro para nos despedirmos, mas como costume repetiam-se as deixas para a despedida. A certa altura inclinaste-te sobre mim para te despedires e começaste a beijar-me o rosto, percorrendo-o até encontrares os meus lábios…. Senti borboletas no estômago! E elas ficaram a esvoaçar desde esse momento até quando no outro dia de manhã acordamos lado a lado no meu apartamento. O sol de Inverno que, sem pedir licença, entrava pela janela do quarto brilhava de uma forma particularmente encantadora e reconfortante. Encheste-me de beijos no pescoço, pois tinhas descoberto durante a noite que os beijos no pescoço e os abraços fortes são o meu fraco. Acariciaste o meu corpo despido e lânguido que te ladeava, que te cobriu e que te recebeu. Voltei a sentir o alvoroço do esvoaçar das borboletas…. mesmo depois de teres tomado banho e saído para a reunião das 11 horas.
Prometeste que me ligavas…. Nunca mais o fizeste. Ainda te encontrei on-line uns dias depois mas escusaste-te com a desculpa de que não pretendias magoar-me. Chegaste ao ponto de me dizer que não conseguias enfrentar-me para falarmos porque isso te magoava.. porque não eras capaz de te envolver.. já te tinhas magoado... e nós íamos magoar-nos pela certa...
Perante tanto medo e tamanho receio infundado não insisti nem tão pouco contra-argumentei. Afinal de contas não devíamos nada um ao outro….
Não voltei a ver-te, nem mesmo voltaste a estar on-line, pelo que dá para perceber que me excluíste da tua vida mesmo antes de eu ter oportunidade de entrar. Dizias que tinhas medo de sofrer e à luz disso o teu comportamento tornou-se previsível. Mais do que isso, um verdadeiro cliché.Ainda andei algum tempo a tentar desculpar o teu comportamento e pensava para mim que de facto algumas pessoas deixam tamanhas marcas em nós que depois temos receio de nos abrir para novas relações... Acrescentava para mim mesma que isso já me tinha acontecido.. Até que um dia acordei, fui trabalhar, saí para o café e fui dormi.... E no dia seguinte percebi: não tinha pensado em ti nem em nós!!! Depois de almoço não resisti: fui ao café onde me tinhas levado e pedi um crepe de menta e chocolate! Saboreei-o sozinha enquanto olhava o sol através dos meus grandes óculos de sol e deliciei-me ao perceber que apesar de tudo conseguia lidar com aquelas borboletinhas pequeninas que insistiam em esvoaçar.....



PS - Aqui vos deixei um dos meus texto à Margarida Rebelo Pinto - nem sempre sou capaz de escrever com qualidade!!! Beijos

1 comentário:

Carminho disse...

Querida Maria

Obrigada pelo teu delicioso texto, com sabor a chocolate e menta...

Muito bom mesmo! Aguardo pelo próximo doce com que nos presentearás.

E, aqui entre nós, quem dera à MRP ...quem lhe dera!!

beijo grande para ti, minha linda borboleta que voas graciosa e colorida, agora que te libertaste do casulo...