quinta-feira, abril 01, 2010

Reflexões para justificar o código 999 : )

Embora não seja espectadora assídua e ferranha da Novela Perfeito Coração, o facto é que costumo assistir a alguns episódios antes de passar a Viver a Vida, essa sim novela da qual me confesso algo viciada.

Como a novela é bastante básica e a trama se desenrola a passo de caracol em coma, é fácil apanhar quer a história, quer as 'imperfeições' da coisa.

Vejamos:

- existe uma personagem, escultora residente em Berna e amiga da sofredora central da tramóia, que, em todos os capítulos que eu vi, aparece no seu estúdio, vestindo os mesmos calções de ganga e a mesma camisola de alças e, curiosamente, a moldar a argila sempre recorrendo aos mesmos movimentos. Das duas uma: ou a cena foi gravada uma só única vez e foi repartida aos pedaços para ir usando cada um de quinze em quinze dias lá no meio da historieta (forma inteligente de não ter que remunerar a actriz por mais de um mês consecutivo) OU a actriz representa uma escultora que apenas tem uma peça que, por ser um sucesso fenomenal de vendas, tem centenas de encomendas e por isso tem que fazer centenas de réplicas ...
Quanto aos calções e à camisolita, posso sempre assumir que é uma escultora poupadinha e, ao mesmo tempo, não muito adepta do asseio pessoal...

- existe um atelier de arquitectura no qual 3 arquitectos e 1 engenheira trabalham alegremente numa única mesa de trabalho que faz lembrar as mesas da sala de jantar das nossas casas. Estiradores, cavaletes, réguas enormes e rolos gigantes de papel não se vêem em lado nenhum ... Apesar de estarem sempre a dizer que estão cheios de trabalho, os rapazes e raparigas são uns autênticos baldas! Sempre que acontece algo aborrecido basta-lhes enrugar ligeiramente a testa e dizer a seguinte frase: ''Não estou com cabeça para isto''. Seguidamente, perante o olhar bondoso do patrao do atelier, pegam na bolsa ou no casaco, pedem desculpa de forma sofrida e retiram-se.

O mesmo parece acontecer num outro contexto laboral retratado na novela - um Banco.
Mais uma vez, a frase 'Não estou com cabeça para isto' serve de pretexto a administradores e secretárias para dar o pisga do trabalhinho ...

Mesma coisa no salão de cabeleireiros... na mercearia, e no Café Gourmet! Neste último, a coisa é ainda melhor, porque a patroa é que aconselha a funcionária a ir embora, deixando-a com o trabalhinho todo para si: ''Madalena, tu não estás nada bem. Já vi que hoje não estás com cabeça para isto. Vai-te embora, que eu fico aqui a tomar conta do café''...e ainda lhe diz, a benemérita: ''Toma, pega nestes 100 eur e vai à consulta de psicologia que te vai fazer bem''.

E eu fico ali, em frente ao televisor, a papar aquilo e penso se essa não será a frase mágica a utilizar em dias como este, em que todos estão aqui corpo presente mas de mente ausente, a ansiar pelas seis e meia para irem emborita gozar o fim de semana prolongado.

Infelizmente, a realidade é diferente da ficção. Os patrões foram à vidinha deles e não só não mandaram ninguém para casa mais cedo como também nem desejaram Boa Páscoa. Se calhar eles é que não estão com cabeça para a coisa ... e foram arejar um bocadinho...
É, se calhar foi isso mesmo.

E agora desculpem, ''Não estou com cabeça para isto'' ;) Fui!

3 comentários:

Ivana disse...

Tu és demais!
É exactamente isto! Exactamente isto!

Obs.: também aprecio bastante as mesas de pequeno almoço destas famílias das novelas, com imensos sumos de frutos e frutos tropicais´, tipicamente portugueses. Levantam-se certamente às 6:00 para conseguir preparar uma mesa assim, sendo que saiem depois para trabalhar de forma calma, serena e feliz. Tal qual eu!
E pronto, já está meu código 999 aplicado!

Betty disse...

Estou agora a acompanhar um episódio e reparo que é assim mesmo. Ela está no ateliê, atende uma chamada e sai a correr enquanto a outra tenta entender o que se passa. Acho que vou começar a usar essa: "Ai, a sério? Não posso! Não, espera, não saias daqui que já vou ter contigo!", enquanto pego na minha mala e saio disparada, fazendo sinais, mas sem dar qualquer explicação.

Ivana disse...

"O problema não és tu, sou eu! Será que não entendes?! (fungadelas e choro reprimido) Olha para mim! Eu não te mereço..."
E pronto, está feita a cena de amor.
Depois ela sai acenando aflita e sem dar explicações.