terça-feira, dezembro 11, 2007

A tarefa inacabada: retomar o ''Trilhos''


SONHO com o Trilho - ZERO


Estou num descampado. À volta, nada. Apenas poeira que levanta e me aflige a vista. Sinto a pele arrepiada. Está frio, aqui. Interrogo-me como aqui vim parar, mas não consigo pensar com clareza. Como se a poeira me tivesse entrado pela cabeça e toda a minha mente estivesse envolta num nevoeiro cerrado. Estou consciente de quem sou ‘Sou a Rita, tenho 30 anos’, repito para mim mesmo, em voz alta.
Mas até o som da minha voz me arrepia, porque ecoa neste vazio. Sinto uma solidão atroz. Uma vontade de escapar deste sítio árido, sem vida, seco.
Mas nem sequer me mexo. Estou absolutamente imóvel, como se desistisse logo desde o inicio. Apenas a mente deseja escapar, mas o corpo já desistiu, os músculos estão petrificados, rígidos. Tremem com o ar gélido que paira sobre um cenário nunca antes visto.
‘Terei morrido?’ – interrogo-me. Em catadupa, surgem uma série de ideias racionais: ‘ Não, se tivesse morrido, não seria possível sentir o corpo frio, porque com a morte a matéria sucumbe, perece, apodrece, termina.’ ‘Aliás, se tivesse morrido, não mais existiria corpo, porque os meus parentes teriam cumprido o meu desejo de ser cremada, mais um comprovante de que neste corpo ainda reside vida.’
‘Estou perdida. Algo de muito mau me terá acontecido. Terei sido raptada por um bando de criminosos que, após me terem feito muito mal (tanto que até apaguei essa terrível memória do meu consciente) me largaram neste fim de mundo?’
Começo a sentir pânico, a respiração a acelerar, mais e mais, o coração a bater, mais e mais, um frio terrível e, ao mesmo tempo, um suor que me alaga.
A vista começa a ficar turva, estranhamente embaciada. ‘Estarei drogada?’ – penso.
Lentamente, começa a aproximar-se de mim uma forma indistinta...
Esfrego os olhos – estão como que um vidro empoeirado – e a imagem continua a aproximar-se, a mover-se até mim. Porque eu estou ali, imóvel. É-me impossível mexer-me...mas a imagem caminha até mim, começa a ficar mais nítida, mais próxima...até que, a um passo de mim, pára. São dois trilhos de comboio...
Olho para os trilhos, duas direcções... e fico especada, apenas a olhar...No vazio, apenas eu e dois trilhos.


(Acima, o começo de uma história por contar. Uma dança que prometia ser longa, demorada e enérgica ... mas que simplesmente ficou adormecida cá dentro. Esta pode bem ser uma das metas para 2008 - retomar o meu trilho e decidir-me a dar-lhe um destino certo e seguro... L.)

3 comentários:

Ivana disse...

Gosto quando escreves assim. Fiquei curiosa. Continuas?

Madalena disse...

Engraçado hoje "brinquei" com o facto de esta época ser de desejos futuros. Brinquei mas dou por mim a pensar que agora é que vai ser diferente.

Se já traçaste um trilho agora é só segui-lo ou voltar a ele, se o deixa-te para trás.

Já agora também fiquei curiosa! Gostava de continuasses!

Anónimo disse...

Ohhh que bom que foi rever os teus trilhos!! E relê-los!!
Sim, sempre foram só teus e nunca poderia ter sido de outra forma!