sexta-feira, janeiro 27, 2006

A Menina Azul


Nos meus caminhos tenho cruzado com outros caminhos trilhados por outras pessoas. Até aqui nada de novo. A vida quer-se assim, cruzada (e trilhada...).
Nem sei bem porque o decidi, mas escrevo agora sobre a Menina Azul. Falo aqui um pouco sobre uma menina. Uma menina permanentemente azul...
Pelo menos era assim que eu a via. Pequeninas, finas quase imperceptíveis veias azuis cobriam-lhe crânio nu. E os olhos, de um castanho sempre azulado, eram os olhos mais esperançados que eu alguma vez vira.
Era baixinha esta menina. Certo que tinha apenas 7 anos, mas era, ainda assim, pequenina. A sua estatura não a impedia de chegar até nós, até mim. O olhar irrequieto, de uma inquietude angustiada não descansava nunca, contrastando com a serenidade dos seus gestos.
"Sim, eu sei que estás aí!" queria o meu coração dizer-lhe. Mas o meu coração não falava, a minha boca não se movia, e a Menina Azul não escutava...
Conheci esta menina há 3 anos. Olhei-a e vi. Curiosamente sinto que ela me viu desde logo. Pelo seu comportamento consigo perceber que me observa constantemente e ficava aborrecida quando não a olhava/via também.

Tinha medo. De olhar para ela e não conseguir mais desviar os olhos do coração.
Mas tinha maior medo ainda de não a poder olhar mais e ir descobrindo as curvas do sorriso, os gestos serenos que camuflavam palavras.

O meu coração falou, a pouco e pouco e ela foi respondendo. A Menina Azul ensinou-me a sorrir com o olhar e a perceber que o som de uma gargalhada é o maior presente que eu podia receber. deixei de ter medo.

Não voltei a cruzar-me com ela. A vida tem destas coisas... E o coração aquece-nos por dentro, enquanto as lágrimas vão caindo, sob forma de um sorriso.
A Menina Azul é quem eu gostava de ser quando fosse grande.

De C. para C.

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