Sentei-me junto dos engenhos que tornam possível beber a natureza pelas folhas de chá e caminhei pelos trilhos de plantações. Afinal era através das leis da física, e do homem, que a seiva da folha era espremida tornando-a seca e quebradiça. Fiquei a ver a pequena alma de cada folha evaporar-se para o mundo ao ser lançada nos grandes recipientes finais. O chá não tem seiva afinal. Mas faz crescer a que nos corre cá dentro.
Inundada pelas visões de lendas e estórias, avistei as lagoas irmãs que reflectiam o mundo. Nas Sete Cidades encontrei as nove estrelas dos Açores, pérolas colocadas no mar por uma deusa sorridente. Estavam suspensas no céu do café onde conversei com os ingleses, os alemães e os chineses. Cabe um mundo inteiro encaixado na cratera deste vulcão.
Já na cidade, os habitantes engalanavam as ruas forrando-as de flores compostas em padrões geométricos, criando o percurso pelo qual a procissão seguiria. O Senhor Santo Cristo surgiu no meio da multidão expectante e, debruçado sobre si, lembrou aos Homens que o mundo é feito de dor também. Desviei o olhar. Não quis concordar com ele e fugi para o porto em busca de consolo com a vista da cidade pelo lado oposto.
Fui ter ao coração dos pescadores e no meio dos barcos avistei os dizeres do povo. Mais tarde, encontrei-me no largo da matriz. Inspirei fundo enquanto degustava uma queijadinha da vila e, relaxando, escutei ao longe os cânticos do povo que saudava a imagem do santo. Rodeada por tanta devoção não consegui evitar sentir-me uma pecadora. Esta ilha é uma tentação… Que o diga S. Miguel, o arauto da divindade e príncipe dos exércitos celestiais. Com a sua armadura brilhante, com lança e espada em voo como que mergulhando no dragão infernal, olha-nos dos azulejos nas paredes com ar decidido. Por mim ali me fiquei. Já faltava pouco para me despedir desta lágrima de basalto mágica…
1 comentário:
Belíssima narrativa.
Gostei muito e das fotos nem se fala. Muito bonitas.
:)
Ainda bem que foste!
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