Todos os habitantes pareciam ter uma couraça, duros, reservados, como quem sabe que a terra magnífica que pisam é um dos lados do espelho de um mundo basáltico.
Em Rabo de Peixe percebi o que João de Melo escreveu em Gente Feliz com Lágrimas. Vi sorrisos luminosos vestidos de trapos sujos e grandes partidas de futebol com embalagem de plástico vazias. Percebi depois que não tive coragem de os registar na película digital. Eram demasiado reais e transportaram-se para a viagem quase mortal que as personagens do livro viveram na navegação da ilha para o continente, “quase sem alimento, com o abominável cheiro dos barcos metido no estômago e nos pulmões, quem sabe mesmo se dentro das veias”. Mas estas pessoas estavam na ilha ainda, aprisionadas numa vida em terra, ao serviço dos barcos.
Abandonei a vila com uma grande tristeza. Mas acenei sorridente enqanto me despedia da menina que se agitava dizendo-me adeus. Ela sim, era um farol.
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