Sempre amei por palavras
muito mais do que devia
são um perigo
as palavras
quando as soltamos já não há
regresso possível
ninguém pode não dizer o que já disse
apenas esquecer e o esquecimento acredita
é a mais lenta das feridas mortais
espalha-se insidiosamente pelo nosso corpo
e vai cortando a pele como se um barco
nos atravessasse de madrugada
e de repente acordamos um dia
desprevenidos e completamente indefesos
um perigo
as palavras
mesmo agora
aparentemente tão tranquilas
neste claro momento em que as deixo em desalinho
sacudindo o pó dos velhos dias
sobre a cama em que te espero
Gosto muito da Alice Vieira. Sobretudo das suas histórias para a gente pequena.
Rosa, minha irmã Rosa foi um livro que marcou gerações e ainda hoje os mais pequenos podem deliciar-se com a sua escrita.
Desconhecia os seus poemas, daí que hoje me tenha apetecido postar um deles. Gosto do jogo com as palavras, gosto da mensagem.
As palavras são perigosas sim, pelo menos algumas. Mas se umas caem sobre nós como pedras, outras caem como plumas carinhosas....
... Não será a arte de comunicar um dos grandes desafios da Humanidade?
1 comentário:
Actualmente as pessoas perderam a capacidade de comunicar. Falam, mas não se entendem. E as palavras, tal como o esquecimento, ferem e destroem. Eu sei que devemos dizer sempre o que pensamos, e eu digo, mas cada vez mais dou por mim a escolher como dizer algo para não ser mal interpretada... e fico triste, porque sei que não estou a ser espontânea. Será este o futuro da Humanidade?
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