terça-feira, abril 24, 2007

Ser Alguém na vida...

O que seria de Judite de Sousa se não tivesse acabado os estudos? E de Pedro Abrunhosa? E de Carlos Queirós? O Governo diz-nos: uns falhados. Uma campanha num país onde 56 mil licenciados estão desempregados e ainda mais a trabalhar em «call centers», caixas de supermercados, restaurantes, quiosques, cinemas e, quem sabe, a aparar relvados de clubes de futebol. O mais curioso é que estes anúncios pretendem publicitar um programa que valoriza o que se aprende ao longo da vida, incluindo na experiência profissional que a campanha desvaloriza. É o Governo a insultar as suas próprias intenções.
A julgar pela campanha, o Governo acha que os “estudos” não servem para saber mais. Servem apenas para alcançar o sucesso. Para “ser alguém na vida”. E qual é a medida do sucesso? Ser famoso. Um bom retrato do país: o trabalho não é respeitado se não trouxer com ele estatuto social; a fama vale mais do que a competência; e o prazer de aprender não chega como argumento. A própria ideia de “acabar os estudos” é reveladora. Como se eles alguma vez acabassem. Uma curiosidade: Sophia de Mello Breyner, Herberto Helder, António Ramos Rosa, Alexandre O’Neill e José Saramago não acabaram os estudos. «Loosers»!


retirado do site do Expresso, autor Daniel Oliveira

... Pois, ironias à parte, concordo com o senhor... Está um pouco infeliz o anúncio.
Era giro era se divulgassem novas e reais oportunidades que soubessem aproveitar o melhor de cada um de nós! Para quando? Não me venham com o Dia de S. Nunca à tarde, porque a agenda para esse dia já está cheia...

Outra leitura:
Há umas semanas o procurador-geral da República disse no Parlamento: “Os blogues são uma vergonha”. Explicou que lê cartas anónimas que chegam à Procuradoria mas não lê nem quer ler blogues. Na entrevista à RTP, Sócrates repetiu o desdém: os boatos começam na blogosfera.

Hum, será?! Marotos dos blogues! Imorais! Se ao menos quem escrevesse nos blogues tivesse ''terminado os estudos'' aí, sim, se calhar já seriam mais dignos...

3 comentários:

Carminho disse...

Ora cá faria o anuncio da seguinte forma:

'A todos os futuros embriões de Portugal, para que sejam alguém na vida, antes de nascer virem os rabiosques para a Lua e escolham uma Família com um sobrenome tipo Azevedo, Amorim, Balsemão, Barbot por aí...':)

Já agora ser alguém na vida, é exactamente o quê?

Ivana disse...

A intenção está mal espelhada no anúncio, pode ser. Mas parece-me importante a Portugal.

Porque nem todos nascem sob um nome importante (lá está..) e porque há muitos licenciados que não sabem ler ou escrever direito.

O dilema é brutal, sim:
1) vamos abrir as portas às validações de competências e aumentar a escolaridade média em Portugal, mesmo com o risco de "tudo o que vem à rede é peixe" e os centros de formação ganharem balúrdios com isto;
2)vamos continuar a tapar o acesso ao emprego e á realização pessoal aos que não "terminaram os estudos" porque esses certamente não sabem o que fazem...

Eu opto pela primeira. Assim como assim, há muito incompetente licenciado por Portugal a ocupar cargos de relevo. Ao menos que seja um que já foi jornaleiro e conseguiu realizar o sonho de ser chefe.

Madalena disse...

Novas oportunidades...

Sou a favor, com todas as prós e contras, com tudo de bom e de mau que possa daí advir...

Mas sou a favor...

Espero é que as pessoas aproveitem, não sei se existiram muitas mais que esta.