Dias há em que tudo fica mais díficil. Em que acordamos com vontade de adormecer de novo, em que a preguiça parece conduzir-nos para sítio algum;
em que vemos algo ao espelho parecido com uma expressão, mas que não conseguimos definir.
Em que calçamos os sapatos de sempre mas não o sentimos como nossos.
Em que tropeçamos nas esquinas das mesas e deixamos o café da máquina jorrar, porque nos esquecemos de colocar lá a chávena.
Em que olhamos para o retrovisor do carro sem vermos quem vem na faixa para a qual queremos passar.
Em somos pilotos automáticos em absolutamente tudo o que fazemos.
Em que tiremos o fato do armário, atamos o nó da gravata e, a meio do dia, nos damos conta que não nos lembramos do que se passou há meia hora atrás, quanto mais de manhã!
Dias há que mexemos na aliança, giramo-la com o polegar e nos damos conta que dez anos se passaram e que tudo está gasto menos o metal do anel.
Em que nos esquecemos do nosso próprio nome porque a assinatura automática põe-no lá por nós. E ficamos a olhá-lo e a pensar que soa tão estranho dito em voz alta: ‘’Miguel, Miguel?!’’- repetimos para nós próprios, com expressões de estranheza estampadas no rosto.
Em que paramos e olhamos o teclado do computador e pensamos para nós próprios que diabo nos aconteceu porque já nem olhamos para as teclas enquanto escrevemos e somos mais velozes a fazê-lo do que a fazer qualquer outra coisa na nossa vida.
Dias há em que tudo fica mais difícil exactamente porque tudo fica mais límpido e a rotina nos aparece crua e nua.
1 comentário:
Dias dificeís... acho que sei do que falas!!!!
Mas olha dizem que depois dos difíceis vêm os fáceis e os melhores e tudo ficam mais límpido...
Dizem, sei lá....
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