Num só fôlego devorei ‘Caím’, o polémico novo livro de Saramago. Antes de novo, o livro é adjectivado como polémico e confesso-me culpada do pecado da curiosidade que me levou, instintivamente, à prateleira da Fnac e, acto contínuo, até à caixa de pagamento e, quando dei por ela, ao meu sofá.
Caím é a personagem central do livro (até mais do que o Senhor que os Católicos mais aguerridos - e intolerantes - da nossa sociedade tanto tentam proteger da ferocidade de Saramago) que vai, qual errante pecador do crime de fratricídio, vaguear pelo tempo, em jeito de Viagem ao Futuro, tomando parte, ora como actor, ora como espectador, de alguns dos mais conhecidos episódios do Antigo Testamento, nomeadamente: a destruição da cidade de Sodoma, Torre de Babel, dilúvio e Arca de Noé, a maldição de Job, Isaac e Abraão, entre outros.
Condenado à imortalidade pelo Senhor, que outrora o tinha como fiel seguidor, Caím torna-se no seu espectador mais crítico, questionando a sua infinita bondade e misericórdia e insinuando, através de um brilhante sarcasmo e ironia (que muitas vezes me levaram ao riso), que o Senhor possui características tão humanas como as que encontra na sua imperfeita criação, entre elas: a vaidade, a ira e até, eu diria, o ‘amuo’ quando não é ‘feita a sua vontade’.
Tem momentos de erotismo (eu diria até de pornografia) pelo meio, com o recurso a uma linguagem eloquente e grosseira ao mesmo tempo (tão típica de Saramago), que pode chocar os mais púdicos, se estiverem despreparados e forem ler esta narrativa ficcional com uma armadura de defesa e falso moralismo.
O livro está bem pensado, a meu ver, e não encontro nele motivos para a tal polémica. Se considerarmos que a Bíblia (e particularmente o Antigo Testamento, tal como o conheço) tem muito mais de imaginação humana do que factualidade, porque não encarar com naturalidade e ligeireza – já para não dizer, com admiração e respeito – que um escritor se deixe levar pela sua imaginação e teça, também ele, histórias?
Em momento algum do livro me senti amestrada, ou sujeita a doutrinação.
Sou o que sou, penso por mim. E acho que Caím é, no livro, justamente isso: a consciência de que, apesar do que nos ensinam, os nossos actos e pensamentos serão sempre livres e que disso depende, apenas única e exclusivamente, a nossa vontade.
Em síntese: eu gostei. Não foi o livro da minha vida mas antes um momento agradável de leitura (mais um entre outros tantos).
Caím é a personagem central do livro (até mais do que o Senhor que os Católicos mais aguerridos - e intolerantes - da nossa sociedade tanto tentam proteger da ferocidade de Saramago) que vai, qual errante pecador do crime de fratricídio, vaguear pelo tempo, em jeito de Viagem ao Futuro, tomando parte, ora como actor, ora como espectador, de alguns dos mais conhecidos episódios do Antigo Testamento, nomeadamente: a destruição da cidade de Sodoma, Torre de Babel, dilúvio e Arca de Noé, a maldição de Job, Isaac e Abraão, entre outros.
Condenado à imortalidade pelo Senhor, que outrora o tinha como fiel seguidor, Caím torna-se no seu espectador mais crítico, questionando a sua infinita bondade e misericórdia e insinuando, através de um brilhante sarcasmo e ironia (que muitas vezes me levaram ao riso), que o Senhor possui características tão humanas como as que encontra na sua imperfeita criação, entre elas: a vaidade, a ira e até, eu diria, o ‘amuo’ quando não é ‘feita a sua vontade’.
Tem momentos de erotismo (eu diria até de pornografia) pelo meio, com o recurso a uma linguagem eloquente e grosseira ao mesmo tempo (tão típica de Saramago), que pode chocar os mais púdicos, se estiverem despreparados e forem ler esta narrativa ficcional com uma armadura de defesa e falso moralismo.
O livro está bem pensado, a meu ver, e não encontro nele motivos para a tal polémica. Se considerarmos que a Bíblia (e particularmente o Antigo Testamento, tal como o conheço) tem muito mais de imaginação humana do que factualidade, porque não encarar com naturalidade e ligeireza – já para não dizer, com admiração e respeito – que um escritor se deixe levar pela sua imaginação e teça, também ele, histórias?
Em momento algum do livro me senti amestrada, ou sujeita a doutrinação.
Sou o que sou, penso por mim. E acho que Caím é, no livro, justamente isso: a consciência de que, apesar do que nos ensinam, os nossos actos e pensamentos serão sempre livres e que disso depende, apenas única e exclusivamente, a nossa vontade.
Em síntese: eu gostei. Não foi o livro da minha vida mas antes um momento agradável de leitura (mais um entre outros tantos).
(e sim, reconheço que Saramago, além de génio literário, é um genial marketeer)
2 comentários:
Partilho da tua opinião sobre o papel de Caim, como a consciência da liberdade de escolha, o poder de reflectir sobre o que nos ensinam e tomam como verdade.
No entanto reforço a minha desilusão. Não é um livro brilhante, mas proporcionou-me momentos de reflexão e de gargalhadas, no metro.
Saramago não está neste livro como eu gostaria...
Já estava curiosa, mas graças a vocês fiquei ainda mais. Acabando este que estou a ler, talvez "Caim" seja o próximo a fazer-me companhia.
Enviar um comentário