A 08 de Outubro de 1980 apresentei-me ao Mundo. Vinha cabeluda, como comprovam as minhas fotos mais antigas e relata, emocionada, a minha querida mãe.
Essa abundância capilar condicionou, como irão perceber, grande parte da minha vida. Daí, este ano ter resolvido soltar o verbo para contar um pouco acerca destes 29 anos de penteados.
Ora, desde tenra idade que os meus fios capilares foram alvo de mentes mais perversas.
Começou logo na minha ama. Tudo aconteceu devia eu ter cerca de quatro anos. Às escondidas da severa cuidadora de menores, eu e o meu (até então) amigo, Daniel, resolvemos ir brincar para o pátio da casa. Por sua iniciativa, Daniel sugeriu-me brincar aos cavaleiros. Eu, criança afável e bem-disposta, assenti e, quando dei por ela, já ele estava a pegar nos meus longos cabelos, passando-os à volta do meu pescoço e puxando-os atrás de mim como se eu fosse o cavalo e ele o cowboy! O mafarrico não gostou que eu não tivesse gostado da brincadeira e tivesse reclamado e resolveu puxar ainda com mais força! E mais força!! E mais força ainda!!!
O resultado deste abuso capilar foi, está-se a ver, uma marca vermelha acentuada à volta do meu pescoço que foi somente detectada pela minha mãe já em casa, no final do dia. É que, para além de afável, eu era uma valente totó e tinha-me calado sobre o acontecimento …
No dia seguinte, deu-se o despedimento da minha ama uma vez que, à reclamação da minha mãe da sua falta de atenção para com as crianças, a suposta ‘’educadora’’ respondeu com um ‘’É muito bem feita! Ela é que não devia tê-lo deixado fazer dela égua!!’’.
Bonito, não acham? Mas o desastre continua …
Fã da minha farta cabeleira, a minha irmã mais velha apossara-se dela muito cedo e tornara-se na minha cabeleireira pessoal. Era ela quem me penteava para ir para a escola e até foi ela quem me penteou quando fiz a minha primeira comunhão! Tudo isso seria fabuloso se:
- no meu primeiro dia de aulas da primária, ela não me tivesse feito um puxo que estava preso por milhentos ganchos todos eles cravejados na minha cabeça sem dó nem piedade, tal qual Cristo foi pregado na Cruz;
- a cada banho, a técnica de desembaraçamento por ela usada não tivesse sido a mera força bruta exercida enquanto empunhava um pente que teimava em descer por onde só havia silvas e arbustos ;
- cada rabo de cavalo por ela não tivesse demorado pelo menos meia hora, na busca incessante pela perfeição, através de múltiplos escovamentos que me feriam a moleirinha. E, para rematar em beleza, o elástico era amarrado ao máximo, como se o penteado se quisesse eterno…
Bom, e isto podia continuar por aqui fora, em descrições infinitamente dolorosas.
Ainda assim, continuei a gostar muito dela e reconheço que ela contribuiu para que o meu look estivesse sempre impecável e fashion!
Entretanto, já mais crescida e possuidora já de um certo ‘estilo pessoal’, decidi impor-me e … zás!! Cabelo fora, cortadinho à rapaz na cabeleireira!
Na rua, lembro-me deste penteado ter despertado os mais curiosos comentários dos meus conhecidos: ‘’Ah, pareces irmão de ti mesma!!’’. Isto é que era gente espirituosa…
Bom, não durou nem um dia o contentamento pois lembro-me bem de ir aos álbuns de fotos lá de casa, reunir as minhas fotos com cabelo comprido e, de seguida, me empoleirar no colo da minha mãe a chorar que nem uma desalmada ‘’Quero o meu cabelo grande outra vez!!’’.
(sim, mãe sofre …)
Os tempos passaram e o meu cabelo foi crescendo. Enquanto crescia fui ensaiando novos ‘’looks’’: ora um rabo de cavalo com direito a uma senhora pala na frente (segura pela potente laca Studio Line), ora cabelo solto com bandolete ou fita a condizer com a vestimenta do dia. Um dia cheguei mesmo a ousar e fiz um rabo-de-cavalo ao lado! E foi um sucesso na altura, só vos digo! :)
Com o avançar da idade, a experiência começou a servir para alguma coisa e cortar os cabelos acima do queixo passou a ser não só proibido para mim, como até um pecado mortal! No entanto, quis o Criador presentear-me com algo até então desconhecido e, aos 16 anos, ostentei na minha cabecita o meu primeiro fio de cabelo branco!
Foi o delírio!! O que eu adorei aquilo! Mostrava a toda a gente com imenso orgulho, como se fosse quase prova da minha maioridade e sensatez.
Dois anos mais tarde, rogava pragas aos meus fios (sim, plural) brancos, que cresciam na minha cabeça como cogumelos selvagem.
Aos vinte, concluí que, se calhar, existe um quê de verdade no ditado popular ‘’Se arrancas um cabelo branco, de seguida nascem sete’’ e comecei, ao invés de os arrancar, a ‘’aparar’’ com a tesoura … Já era tarde demais!
Durante a faculdade, experienciei uma fase tresloucada e pintei o cabelo de preto. Com as minhas olheiras e a minha tez amarelada do Inverno, parecia um membro da família Adams.
O que valeu foi que, com poucas lavagens, a coisa compôs-se e voltou ao normal.
Aos vinte e dois aninhos ingressei o mundo do trabalho. Hã? Ali, no batente, no estágiozinho, na fabricazinha. O que começou leve, levezinho, começou a pesar cada vez mais, de dia para dia, como se estivesse diariamente a colocar mais um peso na minha balança. De modos que comecei a ficar fraquinha e cansada e (disseram-me mais tarde na farmácia) stressada. E, tal como eu, o meu cabelo stressou e começou a cair!! Primeiro, aqui e ali. Depois, em todo o lado de tal maneira que o Swiffer da minha mãe começou a não conseguir dar conta do recado com uma só passagem!
Resolvemos, então, eu e o meu cabelo, iniciar um tratamento à base de um shampoo e gotinhas especiais. A coisa foi lá e o meu penteado começou a avolumar. A meio do processo, penso que alguém me terá drogado pois num sábado entrei morena no cabeleireiro e saí de lá poucas horas depois com madeixas louras. Estava o caldo entornado!! Aí fi-la bonita e posso dizer que esse momento registou o meu pior penteado de sempre!
Nem as palas monumentais e de gesso foram tão más! Aquele aloiramento foi a coisa mais estúpida que fiz pela minha cabeça abaixo (e cara também, que a coisa envolveu descoloração e mais umas tretas quaisquer e custou-me literalmente couro e cabelo!!).
Anos mais tarde, a recuperar de um desgosto pseudo-amoroso (que agora, à distância, considero ter-se tratado de um desgosto piolhoso), eis que torno a deixar que a malvadez de uma cabeleireira me invada a mente e se apodere do meu juizinho: dessa feita, sai de lá com ‘’nuances’’ ruivas. Isto da história da Branca de Neve comer a maçã dada pela Bruxa Má faz-me lembrar a minha relação com os cabeleireiros … Parecia que ficava drogada quando lá estava, ou coisa do género … talvez fosse do cafezinho que me serviam enquanto esperava … Hum…
Bom, anyway, parecia uma vez mais que tinha passado debaixo de um andaime de obras e levado com a tinta com que os pintores andavam a adornar as paredes. Um desastre ainda maior se considerarmos que a suposta ‘conselheira de estilo’ me retalhou o cabelinho usando uma lâmina horrível e assassina! Dizia ela, a malvada, que o escalado estava na moda! Muito obrigadinha mas eu prefiro ficar OUT!
Sozinha, sem fé nas cabeleireiras e nos salões de beleza. Eu, o meu cabelo e a neve que o cobre se eu não a tapar primeiro e depressinha. Abandonada à minha sorte, meti-me ao caminho e comprei coloração caseira. Foi um sucesso! Não só pintei todos os cabelos brancos como também a porta da casa de banho, a toalha, o tapete e o lavatório … Um feito, se tivermos em linha de conta que também consegui pintar as orelhas e andar com elas pintadas de castanho durante semana e meia. O meu penteado da altura era liso total à la hippie, a tapar as orelhas o máximo possível!
Mas não pensem que tudo foi um mar de espinhos, au contraire! No meio destes episódios menos felizes do ponto de vista capilar, o meu cabelo estava sempre impecável, liso e sedoso!
Aliás, este relato irá surpreender pela novidade dado que não existem provas dos descuidos estéticos acima mencionados (uma vez que nunca me deixei fotografar, ou que acham?!). Quem vir as minhas fotos ao longo dos 29 anos vai até pensar que nunca mudei de penteado … (uma pessoa tem que andar prevenida, correcto?)
E eis-me finalmente chegada ao mar da Tranquilidade aos 29 anos. De há uns quatro anos a esta parte, o meu penteado ficou estável e saudável. É muito afagado e bem tratado pela sua cara-metade e isso revela-se no seu brilho! É o meu melhor penteado de sempre! E quer é mais continuar assim: FELIZ e a celebrar a VIDA!!
(Bora aí abanar capacete e o penteado ??)
7 comentários:
AMEI!!
E sim, lembro-me desses episodios todos!!
AMEI!!!
Muitos parabéns Li! Que os 29 aninhos sejam repletos de muitos momentos felizes :)
Beijocas
Parabéns Biju!
Obrigada minhas lindas!
Beijinhos a todas!
Muitos parabéns! E que o dia cinzento não estrague as cores de um dia de aniversário.
Ai lobe iu beibi...
Adorei reler estes episódios escritos como só tu sabes, minha musa!
Qualquer que seja o tamanho, a cor ou o feitio dos teus penteados ficarás sempre linda, mesmo com os penteados matinais quando acordas ainda ensonadinha…
Apenas dizer-te que te amo muito, que és a musa que me inspira todos os dias e me faz o homem mais feliz.
Do Rei Sol para o sua Girassol,
Porque o Sol se esforçará sempre por iluminar a sua Girassol trazendo brilho e alegria à sua vida...
D.
Enviar um comentário